Inauguração do Grande Museu Egípcio abre portas a cinco mil anos de história da humanidade
A abertura ao público acontece na terça-feira
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O Grande Museu Egípcio, dedicado às 30 dinastias da civilização faraónica e aos seus 5000 anos de história, vai ser inaugurado oficialmente este sábado, três dias antes da abertura ao público e 20 anos depois do lançamento do projeto.
Localizado nos arredores do Cairo, junto às Pirâmides de Gizé, o Grande Museu Egípcio (GEM, na sigla em inglês adotada pela instituição) custou 1,2 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros), é o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, com mais de 50 mil peças expostas num acervo de cem mil, que abrangem 7.000 anos de história e exemplares como a monumental estátua de Ramsés II e os 5.398 artefactos do tesouro de Tutankhamon, entre os quais a sua máscara funerária de ouro, segundo a informação oficial da instituição.
A inauguração mobilizará cerca de 80 delegações oficiais convidadas, sendo esperados 55 chefes de Estado e de governo, entre os quais o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e a ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, em representação do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Projetado pelo gabinete irlandês de arquitetura Heneghan Peng, o museu ostenta uma fachada triangular de vidro, à semelhança das vizinhas pirâmides de Gizé, ocupa uma área 500 mil metros quadrados - o dobro do Museu do Louvre e duas vezes e meia o Museu Britânico -, com o edifício principal a ocupar cerca de 170 mil metros quadrados, e o restante dedicado a jardins, praças, zonas comerciais e locais de acesso.
No átrio de entrada, ergue-se o Obelisco Suspenso e o "colosso de granito" de Ramsés II, o Grande, uma estátua com 3.200 anos e 12 metros de altura, transferida para o museu após décadas numa rotunda congestionada do Cairo, descreve a agência de notícias Associated Press (AP).
Do átrio parte uma grande escadaria, de seis mil metros quadrados, ladeada por 87 estátuas milenares, que atravessa os seis andares do museu e conduz às galerias principais. Uma ponte liga o edifício às pirâmides, permitindo a deslocação entre elas, a pé ou em veículos elétricos.
O museu inclui 24.000 metros quadrados de espaço para exposições permanentes, uma área expositiva para crianças, auditórios para conferências e salas para serviços educativos, uma área comercial e um grande centro de conservação e restauro, conforme a memória descritiva do projeto.
As 12 galerias principais, inauguradas no ano passado, exibem antiguidades que vão desde a pré-história até à era romana, organizadas por período.
Muitos dos artefactos do GEM foram transferidos do Museu Egípcio, um edifício centenário localizado na Praça Tahrir, no centro do Cairo. Outros provêm de instituições e acervos espalhados pelo Egipto, outros ainda foram recentemente descobertos em antigos túmulos, incluindo a necrópele de Saqqara, a sul do Planalto de Gizé.
As galerias estão equipadas de tecnologia multimédia e contam com produções mistas, que combinam imagem real e virtual, para ajudar a explicar o Antigo Egito às novas gerações, segundo o diretor-executivo do museu, Ahmed Ghoneim, citado pela AP: "Estamos a usar a linguagem que a Geração Z usa. A Geração Z ignora as legendas [museográficas] que nós, os mais velhos, lemos".
A inauguração da totalidade do museu, no sábado, inclui a abertura das galerias, com mais de sete mil metros quadrados, dedicadas ao tesouro de Tutankhamon, que é exposto na totalidade pela primeira vez desde que o arqueólogo britânico Howard Carter descobriu o túmulo do rei egípcio, em Luxor, em 1922.
Muitas das obras foram restauradas no centro de conservação do museu, incluindo os três leitos funerários e as seis carruagens do jovem faraó, que serão mostrados com o trono dourado, o sarcófago revestido a ouro e a sua máscara funerária.
A Placa de Narmer, com quase 5000 anos, a "Cabeça Colossal" do faraó Akhenaton, dos anos de 1300 antes de Cristo (a.C.), a Cadeira de Hetepheres, de 2500 a.C., e o barco funerário com 4600 anos do Rei Khufu - ou Quéops -, o faraó a quem se atribui a construção da Grande Pirâmide de Gizé, são outras peças centrais do GEM.
O centro de conservação e restauro do museu, o maior do Médio Oriente, está localizado a dez metros de profundidade e ocupa 12.300 metros quadrados, enquanto os depósitos, com mais de 3.400 metros quadrados, podem acolher até 50 mil peças.
A construção do GEM, decidida em 2002, teve início três anos mais tarde, e foi perturbada, ao longo dos anos, por crises políticas e sociais, como a Primavera Árabe, a pandemia global e a constante instabilidade no Médio Oriente, levando a adiamentos sucessivos da data de inauguração, a última das quais marcada para o passado dia 3 de julho.
Os adiamentos elevaram também o investimento inicial previsto de 550 milhões de dólares (cerca de 474 milhões de euros) aos 1,2 mil milhões de dólares, financiados sobretudo por empréstimos concedidos pelo Japão, em 2008 e 2016.
O GEM, no entanto, prefigura-se como elemento decisivo na recuperação do turismo do país.
Números oficiais citados pela Efe indicam que as receitas deste setor atingiram os 14,4 mil milhões de dólares (perto de 12,5 mil milhões de euros), no ano fiscal de 2023/2024, com uma recuperação de 34,6% em relação ao ano fiscal anterior, ainda afetado pela pandemia, e 16,7 mil milhões de dólares (14,4 milhões de euros), em 2024/2025.
Nos primeiros nove meses deste ano, ainda segundo dados oficiais, o Egito recebeu 15 milhões de visitantes estrangeiros, um aumento de 21% face ao período homólogo, com uma receita de 12,5 mil milhões de dólares (+14,7%).
As autoridades egípcias, citadas pela Efe, esperam que a abertura do museu já contribua para elevar aos 17,8 milhões o número de turistas no país, em 2025, e aos 18,6 milhões, em 2026.
A cerimónia de inauguração do GEM, que o ministério egípcio dos Negócios Estrangeiros considera um "acontecimento histórico", mobiliza 80 delegações oficiais e mais de 450 correspondentes de 180 órgãos de comunicação social de dezenas de países, embora apenas as imagens oficiais sejam permitidas.
Além do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a cerimónia deverá contar com os reis Felipe VI de Espanha e Willem-Alexander, dos Países Baixos, membros das famílias reais da Dinamarca, Bélgica e Japão, presidentes e primeiros-ministros como Georgia Meloni, de Itália, e Joseph Aoun, do Líbano, num total de 55 líderes, entre chefes de Estado e de governo, segundo o jornal oficial Al-Ahram, citado pela Efe.
O GEM abrirá ao público na terça-feira, com uma expectativa de cinco milhões de visitantes por ano.
Os bilhetes vão custar entre três e 26 euros, com os preços mais altos a aplicarem-se a estrangeiros adultos.
