"Já estava conformado que ia morrer incompreendido." Luís Cília "ataca de novo" com discografia completa reeditada em livro biográfico
Deu o salto para Paris em 1964, ano em que lança o primeiro LP. Proibido em Portugal antes de Abril, não mais parou de tocar e gravar e, atualmente, aos 81 anos, compõe para cinema, teatro e bailado. Toda a produção artística está agora na antologia "Luís Cília" que, entretanto, esgotou
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"Se houver uma segunda edição do livro", vou pedir que se chame "Luís Cília Ataca de Novo" brinca o músico, em entrevista à TSF, enquanto finda o ano em que se assinalaram 50 anos de 25 de Abril. Quando se fala em cantores da intervenção, Luís Cília não é dos primeiros nomes a vir à tona mas, na verdade, foi dos primeiros a fazê-lo. A levantar a voz pela liberdade, dez anos antes da Revolução.
O autor de "O Povo Unido Jamais Será Vencido" e "Avante Camarada!" tem mais umas centenas de canções por descobrir, agora reeditadas numa antologia em livro. O "cantor proibido", que cedo se exilou em França ainda está ativo, compondo bandas-sonoras. A TSF foi ao encontro de Cília para nos falar deste acervo, até agora, indisponível.
Foi o primeiro dos portugueses a cantar no exílio. Há 60 anos já gravava para uma importante editora francesa, nesse mesmo 1964 em que deu o salto para Paris a bordo de um Fiat 600. Luís Cília tanto agarrou a ditadura pelos colarinhos com a canção panfletária, como o fez musicando grandes poetas portugueses com uma guitarra que soava à nova canção francesa. Nunca foi preso porque escapou a tempo da guerra colonial.
Em fevereiro completa 82 anos. Muitos não o conhecem, mas começou a gravar ao mesmo tempo que José Afonso, embora não soubessem um do outro. Depois de quase proscrito, Luís Cília corria o risco de ficar anónimo para as novas gerações, não fosse a antologia auto-intitulada que acaba de sair. Talvez não faça ideia da produção deste autor que ainda compõe para cinema e bailado. Onze CDs com quase treze horas de música integram o livro “Luís Cília”, autoria de Octávio Fonseca, com a incrível história do cantor, a discografia completa e um bónus inédito com bandas-sonoras.
Cília vive em Lisboa, numa casa com vista para a mesma Alameda onde esteve no 1.º de maio de 1974 reunido com antigos e novos camaradas, num Portugal já livre. Nas paredes do apartamento de Luís Cília e da mulher Judite, responsável pelo grafismo da maioria das capas, não há discos de ouro porque os seus álbuns nem sequer cá chegavam – estavam proibidos – mas há muitos livros, CDs, quadros, e um Vieira da Silva que ilustrou o segundo volume de “A Poesia Portuguesa de Hoje e de Sempre”, lançado em França, em 1969.
