
J. J. Guillen/EPA
A artista portuguesa inaugura uma exposição no Palácio de Líria que pode ser vista até 31 de julho
Um bule, de mais de três metros de altura, em ferro forjado, impõe-se no jardim do Palácio de Líria em Madrid. De perto, distinguem-se os padrões típicos das grades de portões e varandas de qualquer localidade portuguesa. Num dos laterais, uma pequena porta convida os visitantes a entrarem e a sentarem-se num dos oito assentos. O trabalho, de Joana Vasconcelos, é uma homenagem a Catarina de Bragança, a rainha que casou com Carlos II de Inglaterra e que introduziu o hábito do chá das 17h00 em Inglaterra e faz parte da exposição “Flamboyant”, que abre esta sexta-feira ao público.
“Já que estamos num palácio, temos de homenagear as rainhas. Também as portuguesas, claro”, disse a artista durante a apresentação. A mostra, feita à semelhança das que aconteceram no Palácio da Ajuda e no Palácio de Versailles, tem, desta vez, um aliciante novo. “Trata-se de um palácio vivo, onde moram pessoas e, portanto, há um lado pessoal e de intimidade que não existia nos outros dois e que é muito mais interessante aqui. As coisas têm um amor e estão dispostas de uma forma muito mais pessoal”, explicou Joana Vasconcelos.
Na residência oficial do Duque de Alba, as obras integram-se na vida e decoração do palácio, onde convivem com as obras clássicas de Velázquez, Goya ou Ticiano e dão uma nova vida aos espaços Assim, Marylin, os sapatos feitos com tachos e uma das suas obras mais icónicas, descansam agora no salão de baile do Palácio de Líria. “Como uma princesa que deixou aqui os seus sapatos e foi dormir”, conta.
No salão espanhol, rodeado de retratos da realeza, onde o negro – a cor da corte espanhola- é dominante, gira o “Coração Independente”, também ele negro, a acompanhar o ritmo de um fado de Amália Rodrigues. O coração de filigrana, feito de talheres de plástico negros, encaixa com perfeição na sala. “É o sítio mais belo onde já expus esta obra”, diz Vasconcelos. “É uma das peças fundamentais da minha carreira, porque está enraizada no meu país e nas minhas tradições e quando a transporto, transporto o meu país comigo”.
A exposição, que vai estar aberta até dia 31 de julho, vai permitir ao visitante entrar em espaços que antes estavam reservados ao domínio privado. Um deles é a pequena capela, que alberga agora “Flaming Heart”, o coração exuberante, de lantejoulas e luzes Led, que pende do teto em vários tentáculos que envolvem este espaço religioso.
A mostra estabelece um diálogo contínuo entre o passado e a contemporaneidade. “Há uma preservação das tradições que fazem sentido para mim, manter no futuro, como as nossas técnicas como o croché ou a cerâmica”.
O compromisso da artista é “mostrar como a arte contemporânea pode reavivar espaços históricos” e “honrar o Palácio de Líria como um espaço ao mesmo tempo, de preservação da história e de reinvenção cultural”.
