A arte típica desta aldeia do concelho de Vila Real integra a lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 29 de novembro de 2016
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Há esperança para a olaria negra de Bisalhães, em Vila Real. Já não são apenas os artesãos mais velhos a manter a tradição. Há jovens que estão a iniciar-se na arte que consta da lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO há oito anos.
Sara Marinho, de 33 anos, e Tânia Ló, de 37, são duas vila-realenses que estão a continuar a tradição. Ambas frequentaram um curso profissional que lhes deu competências para se iniciarem numa arte ancestral que precisa de ser salva da extinção.
Sara Marinho inscreveu-se por curiosidade. Depois, “começou a tornar-se uma paixão” pela forma como é feito todo o processo de “uma arte bonita”. Neste momento, Sara trabalha a tempo inteiro na atividade, mas “ainda não é rentável o suficiente”. Admite que é “algo que está a crescer” e espera vir a fazer vida da olaria negra de Bisalhães.
Tânia Ló entrou na arte para “acrescentar valor” à sua área de formação em design. Desde pequena que se habituou a ver as peças de barro de Bisalhães e decidiu experimentar e “incorporar esta vertente”.
Tal como a colega Sara, Tânia Ló também dá um cunho criativo e pessoal ao que produz. “Eu faço em part-time as minhas próprias peças, tento pegar no tradicional e reconstruir, desmontar e montar de outra forma, tendo uma nova visão, uma nova perceção da peça”, salienta.
Querubim Rocha, com 84 anos, é um dos mais antigos oleiros de Bisalhães ainda em atividade. Começou aos dez anos e nunca mais parou. Ainda há um mês cozeu mil peças. O artesão saúda as novas oleiras porque evitam que a tradição morra, mas avisa que para sair bem há que trabalhar de forma permanente, pois “a arte requer que se faça todos os dias para as mãos estarem certas.
A olaria negra de Bisalhães, em Vila Real, é Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 29 de novembro de 2016. A preservação e a valorização deste saber são compromissos da Câmara Municipal de Vila Real e da Junta de Freguesia de Mondrões.
O presidente da Câmara, Rui Santos, lembra que a inscrição da arte na lista da UNESCO obrigou a um programa de salvaguarda, no qual se inseriu o curso que os novos artesãos frequentaram, desenvolvido em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional. O objetivo é que “este património seja preservado e perpetuado no tempo”.
Para comemorar a data, foi inaugurado em Bisalhães um memorial que homenageia os artesãos. É uma bilha de rosca de seis toneladas onde estão gravados os nomes de cerca de 60 oleiros, dos quais nove permanecem vivos e em atividade.
A bilha de rosca “é o símbolo mais forte da olaria negra de Bisalhães", de acordo com Félix Touças, presidente da junta. Hoje tem apenas uma “função decorativa”, mas noutros tempos foi usada, nomeadamente, para transportar água para beber pelos trabalhadores agrícolas. O próximo objetivo da junta é construir um museu, cujo projeto está já “em bom andamento”.
As peças da olaria típica de Bisalhães destacam-se por serem cozidas em velhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, musgo e carquejas, e abafadas depois com terra escura que lhes conferem a cor.
