"Lado negro" escondido pela "censura do Estado Novo": portugueses que estiveram nas mãos dos nazis "podem chegar aos seiscentos"
Agora, há uma exposição em Vila Franca de Xira que homenageia os portugueses vítimas do regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos "não sobreviveram ao terrível sacrifício que significou a vida nos campos de concentração", sublinha Fernando Rosas à TSF
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É possível, a partir deste sábado, visitar o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. É uma exposição que homenageia os portugueses vítimas do regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial, com a assinatura do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
Fernando Rosas, um dos curadores da exposição, diz à TSF que, num momento "em que as democracias do ocidente vivem um entardecer sombrio", é preciso divulgar o "lado negro da história que a censura do Estado Novo fazia questão de manter em segredo", lembrando que Portugal assumia uma "posição de neutralidade" naquela época.
A exposição em Vila Franca de Xira revela as centenas de portugueses deportados e levados para prisões e campos de concentração. As investigações estão em curso e "o número pode chegar perfeitamente a quinhentos, seiscentos portugueses envolvidos".
Muitos dos portugueses acabaram nas mãos do regime nazi por serem imigrantes em França ou casados com mulheres francesas e por participarem em unidades militares quando a França foi ocupada.
Mas também outros que combateram na Guerra Civil de Espanha, na altura do franquismo. E o que aconteceu? "Fugiram pelos Pirenéus para o sul de França, foram internados em campos de prisioneiros, onde as autoridades francesas colocaram os espanhóis refugiados e os portugueses que vinham com eles, fugidos da repressão. Quando a Alemanha entra na França, uma parte deles é levada diretamente para os campos concentração. Ou seja, os alemães ocupam e tudo o que lhes cheirasse serem elementos ligados ao Partido Comunista, às brigadas internacionais, aos anarquistas, muitos deles foram parar diretamente aos campos de concentração", especifica o historiador.
Pelo menos quatro foram executados e muitos portugueses acabaram por trabalhar, "sem comida", até morrer ou de doença. "Não sobreviveram ao terrível sacrifício que significou a vida nos campos", afirma Fernando Rosas. Por norma não resistiam mais de um ano.
A exposição vai estar no Museu do Neo-Realismo de Vila Franca Xira até 4 de maio do próximo ano.