O livro vai ser publicado quarta-feira, quando se completa a passagem de um ano da morte do poeta.
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"Não tenho nenhuma lei nem regra/ para desordenar um poema escrito/ não tenho mais que o desejo de tocar-te/ ó coisa inúmera que entretanto/ além de tocar/ conto e reconto/ continuadamente", lê-se no poema de abertura do novo volume.
"Este é um livro de poemas inéditos, recolhidos nos cadernos [do escritor], cuja edição é de tiragem única, de acordo com o que sempre foi a vontade do autor", lê-se no comunicado da editora que anuncia a preparação da edição crítica da obra de Herberto Helder e a digitalização do seu espólio.
Esta "não se trata da edição crítica que a obra inédita de Herberto Helder merece e que certamente será publicada no futuro, agora que o seu espólio está a ser integralmente digitalizado", lê-se no comunicado. "'Letra Aberta' é uma escolha realizada pela viúva do poeta, que permite uma primeira abordagem à riquíssima 'oficina' a partir da qual foi construindo o seu 'poema contínuo'".
A Porto Editora informou ainda, quando do anúncio da publicação de "Letra aberta", ter chegado a acordo com a editora Tinta-da-China, para a publicação de toda a obra de Herberto Helder no Brasil.
Herberto Helder morreu na noite de 23 para 24 de março do ano passado, na sua casa, em Cascais, e é recordado pelo meio literário e político como o "mago da palavra", poeta "vulcânico" que se remeteu ao silêncio, mas cuja obra deixa marcas na literatura portuguesa.
Discreto, avesso ao lado mais mundano da vida literária, sobrevivem-lhe mais de cinquenta obras, sobretudo poesia, que o inscrevem no reservado espaço dos maiores poetas de Língua Portuguesa.
Nascido na Madeira, em 1930, Herberto Helder viveu quase sempre no continente, desde a adolescência, teve vários ofícios - operário, repórter de guerra, editor, empacotador, bibliotecário - mas o da escrita foi o mais constante, desde que publicou o primeiro livro, "O Amor em visita", em 1958.
Herberto Helder deu a última entrevista em 1968. Desde essa altura manteve-se afastado da vida pública. Em 1994 recusou o Prémio Pessoa, chegando mesmo a pedir ao júri que não o anunciasse como vencedor e que atribuísse o prémio a outro escritor.
Em 2014 publicou o livro "A morte sem mestre". No ano passado foi publicado o último livro organizado pelo autor, "Poemas canhotos".