Em Viana do Castelo, uma loja de fotografia, com mais de um século de existência, decidiu doar o espólio de 10 mil fotos à Câmara Municipal que o vai disponibilizar ao público.
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O espólio da Foto Roriz começa pouco depois da implantação da República e inclui imagens de todos os géneros: "pessoas, festas, romarias, inaugurações, e todo o tipo de eventos fotografados por nós", explica à TSF Victor Roriz, descendente do fundador da empresa e atual gestor da loja. As 10 mil fotos de usos, costumes, tradições e habitantes retratam não apenas a história de Viana, mas também da região, incluindo "Ponte de Lima e a envolvente até Valença", afirma.
O atual, e provavelmente último, dono da loja não tem "condições para cuidar do espólio, e não saberia quem poderia ficar com ele". Victor Roriz explica que a loja poderá "brevemente deixar de existir" e "não poderia "entregar o espólio a qualquer um". Decidiu-se pela Câmara Municipal para que "todos, principalmente os jovens, possam conhecer melhor a história de Viana e da região".
Fundada em 1911, a Foto Roriz resistiu à evolução tecnológica que acabou com a necessidade das famílias irem às lojas para "revelar os rolos", mas essa resistência está a terminar. Victor Roriz admite que a doação do espólio é motivada pelas dificuldades financeiras da loja, que está para fechar portas por causa da alteração na relação da população com a fotografia: "a revolução foi muito grande. A fotografia hoje é a selfie". Mas garante, entre gargalhadas: "no espólio não há selfies!"
Victor Roriz assina nesta quarta-feira a doação do espólio à autarquia da cidade, que vai expor um conjunto de 50 fotos no imediato, no Museu do Traje, no âmbito das comemorações dos 168 anos de elevação de Viana do Castelo a cidade.
Quer ver as 10 mil fotos? Pode
O presidente da Câmara de Viana do Castelo explica, no entanto, que a totalidade do acervo da Foto Roriz estará disponível para consulta pública no arquivo municipal:"O Victor Roriz já digitalizou quase todo o material, que em parte é perecível e que se pode degradar com a utilização, para que todos os investigadores e pessoas que se interessem por História e fotografia o possam consultar de forma mais prática", afirma à TSF José Maria Costa.
O início de construção do prédio Coutinho, na segunda metade da década de 1970, é apenas um dos exemplos do desenvolvimento urbanístico da cidade captado pelas objetivas daquela casa.
Desde a escavação das fundações, no terreno de 975 metros quadrados onde estava instalado o mercado municipal da época, que a Câmara vendeu em hasta pública, à elevação dos 13 andares do edifício construído por Fernando Coutinho, na altura emigrante no Zaire, todo o processo foi registado em fotografia.
Tio da coreógrafa e bailarina Olga Roriz, Joaquim Roriz, hoje com 80 anos de idade e 70 de atividade, ainda mantém, com o filho, Victor Roriz, a casa de fotografia com 105 anos de existência.
"Eu, como o único elemento da família que pode dar continuidade ao negócio, e o meu pai decidimos que esta é a única forma de preservar este material que corria o risco de se perder. Assim pode ser consultado e utilizado, sem fins lucrativos, por toda a gente e a Câmara Municipal vai poder divulgar as imagens", afirmou Vítor Roriz.
Além da inauguração da exposição "Foto Roriz - Evocações, Paisagens e Fotografias" irá ainda realizar-se o ato de doação do espólio do fotógrafo Joaquim Roriz à Câmara Municipal.
Em comunicado, a Câmara Municipal sublinhou o registo de um século de reportagens sociais e históricos da cidade, entre negativos em vidro e em película, a preto e branco e a cores, de vários formatos com milhares de imagens.
"É, assim, de realçar, o relevante contributo que Joaquim Roriz deu a Viana do Castelo, consubstanciado na preservação e oferta de um espólio documental fotográfico importantíssimo para a história desta cidade", sublinhou o presidente da Câmara, José Maria Costa, citado naquela nota.
O autarca socialista destacou "o importante contributo que o fundador e o seu sucessor emprestaram a Viana do Castelo com a reunião e a preservação de um espólio documental fotográfico importantíssimo para a história da cidade".
Em 2012, pelo contributo documental que o fundador e o seu sucessor constituíram para a história do município, a autarquia atribui à Fotografia Roriz, o título de Instituição de Mérito.
Um ano antes, em 2011 a autarquia descerrou uma placa alusiva ao centenário do estabelecimento comercial.