Luísa Amaro: "A música de Carlos Paredes traduz melhor do que ninguém a busca pela liberdade"
Em declarações à TSF, Luísa Amaro, antiga companheira do guitarrista, refere que Carlos Paredes "é fundamental na cultura portuguesa". Faria cem anos este domingo
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Assinalam-se, este domingo, os 100 anos do nascimento de Carlos Paredes. Em declarações à TSF, Luísa Amaro, a antiga companheira do guitarrista, recorda a obra de Paredes como alguém que precisava do contacto com as pessoas para compor.
"Ele dizia que só podia fazer a música que fazia porque vivia no seu contacto diário com as pessoas e com o seu sofrimento. As pessoas vinham ter com o Carlos Paredes, ele andava de autocarro, andava de metro e as pessoas carinhosamente vinham conversar com ele e muitas vezes explicavam os problemas que tinham, sentiam esse à vontade e isso foi uma mais-valia para todos nós", conta à TSF Luísa Amaro, sublinhando que o guitarrista "é fundamental na cultura portuguesa".
"Há uma música de guitarra antes da família Paredes e há outra música depois da família Paredes", assinala. Em 1958, Carlos Paredes foi detido pela PIDE no local de trabalho, tendo sido acusado de pertencer ao Partido Comunista Português. O guitarrista foi militante do partido até à morte.
Luísa Amaro considera que a obra do companheiro podia ser a banda sonora da liberdade portuguesa e que a música era a sua forma de luta.
"Se a liberdade fosse um filme, a música do Carlos Paredes traduziria melhor do que ninguém essa mesma busca da liberdade, porque a música do Carlos Paredes não é uma música acomodada, não é feita de tranquilidade, é uma música que nos comove. Ele foi compondo uma grande parte da sua música quase como se fosse vendo telas da realidade portuguesa, a tal coisa de estar sempre ligado aos outros. Foi através da guitarra que encontrou a sua forma de combater tudo o que estaria errado e que fosse injusto", afirma.
A também guitarrista descreve ainda a forma como a exigência do pai influenciou Carlos Paredes. "Tinham um feitio duro, difícil. O pai era o rei Artur, ter um filho que o surpreendesse tecnicamente e musicalmente era difícil. Mas depois reconheceu que ele era muito bom guitarrista. O Carlos Paredes sempre disse que quem era o grande guitarrista era o pai e não ele. Portanto, isto está muito marcado no inconsciente dele. Talvez tivesse sido mais feliz, em certa medida, se o pai lhe tivesse dado uma qualificação mais aberta ao longo da vida, mas, por outro lado, para nós, foi melhor porque ele foi sempre construindo a sua carreira, acreditando que todos os dias podia ser melhor", acrescenta.
Luísa Amaro é a primeira mulher a gravar e a compor para a guitarra portuguesa. Foi companheira de Carlos Paredes até ao final da vida do artista, que morreu em julho de 2004, em Lisboa.
