Luisa Pereira trabalhava numa empresa têxtil quando uma gravidez de risco a obrigou a ficar em casa o tempo suficiente para decidir nunca mais voltar.
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Foi na freguesia rural da Várzea, em Barcelos, que Luísa Pereira encontrou um lugar de inspiração para começar a fazer artesanato, transformando "lixo em arte". Esta antiga operária fabril deixou o têxtil para seguir um apelo de infância e aventurar-se na arte, ajudando o marido na pintura artística e lançando uma coleção de artesanato, "um figurado novo para Barcelos", feito a partir de materiais recicláveis (papel, cartão, pasta de papel e tecido).
"Quando a minha filha nasceu o meu marido precisava de alguém para o ajudar e fiquei eu. Há uns três anos decidi começar a criar peças de artesanato para mim mas depois as pessoas começaram a gostar e desafiaram-me a fazer feirinhas e exposições", recordou à TSF.
A princípio hesitou mas o marido incentivou-a: "Ele dizia-me "não podes ter medo, tens de ter é cuidado, se vais com medo não vais a lado nenhum" porque questionei-me muitas vezes "estarei boa da cabeça" mas toda a gente me dizia que era uma pessoa de coragem, porque no início não se começa logo a fazer dinheiro", conta.
Luísa Pereira perdeu o medo e ganhou segurança e hoje dedica-se ao artesanato contemporâneo, com peças que se assumem como um "figurado reinventado" e que retratam as tradições minhotas, a lavoura, a religião, além do galo de Barcelos, que tanta procura tem sobretudo entre turistas e emigrantes.
Luísa Pereira trabalha, sobretudo, por encomenda e não tem tido mãos a medir. "Dá para viver do artesanato mas não podemos ceder à pressão do mercado. Temos que saber fixar um limite e dizer que dali para baixo não podemos baixar mais o preço", relata.
E de onde vem a veia artística? "Sempre fui apaixonada por isto, desde pequenina. Quando estamos a trabalhar no que não gostamos não vale a pena porque estamos no caminho errado", acrescenta.
Luísa Pereira espera que as gerações mais novas se voltem, de novo, para o artesanato, para as aldeias e para as tradições, para que a memória não se perca.