A Fundação Calouste Gulbenkian apresenta ao público de Paris a exposição "Gris, vide, cris" - "cinzento, vazio, grito". Um encontro poético, em espaços e tempos partilhados pelo escultor suíço Alberto Giacometti e pelo português Rui Chafes.
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Rui Chafes convida-nos a entrar num túnel escuro intitulado "Para além do olhar", no qual se perde momentaneamente a visão, para a recuperar alguns passos adiante na descoberta de obras de Alberto Giacometti.
Neste primeiro espaço de exposição, as figuras humanas do escultor suíço são apresentadas e integradas no interior de uma obra de ferro de Rui Chafes. A ideia é dá-las a ver melhor, descreve o escultor português. "É um caminho para ver as esculturas de Giacometti como nunca foram vistas, de forma museológica. Quis que as pessoas vissem os detalhes milimétricos que fazem parte da pele de uma escultura deste artista."
Alberto Giacometti e Rui Chafes são conhecidos por pensar na noção de espaço como pontos de partida das suas criações. Em "Gris, vide, cris" é flagrante ver lado a lado, dentro, fora ou do avesso, obras dos estilos completamente distintos dos dois escultores.
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Rui Chafes suspende ferro ao teto, Giacometti cria corpos partindo do chão, da terra. Um é agressivo na textura da pele das suas esculturas, outro é agressivo na matéria que usa. O que junta estes dois universos é o amor pela arte, a reflexão sobre a existência ou ainda a fuga da morte.
Esta é uma "aventura extraordinária", descreve Rui Chaves, uma vez que Giacometti "está no topo da montanha". "Ter a possibilidade de ter este desafio, do confronto com a obra deste artista gigante... Passei a trabalhar com o olhar de Giacometti no meu atelier", confessa o escultor português.
Helena de Freitas, curadora da exposição, lançou o desafio a Rui Chafes há dois anos. "Não é uma exposição confortável, porque convoca a um esforço de olhar e caminhar. É uma experiência do corpo", explica a curadora. Helena Freitas revela ainda que a escolha das obras de Giacometti foi feita de forma precisa: as obras escolhidas são aquelas que menos são conhecidas.
Quando se olha para os ponto de vista de cada artista, compreende-se que cada um tem uma identidade muito própria, mas há uma ressonância forte na construção das obras. Ao percorrer as cinco salas, entramos em territórios de cumplicidades e de pesquisas que se cruzam.
A exposição foi concebida num espaço vazio e silencioso, que não deixa, segundo Helena de Freitas, de ser "uma proposta de resistência a este mundo de arte contemporâneo onde há muito ruído, luz e homogeneidade. É preciso que cada visitante se entregue ao vazio e à solidão."
A Fundação Calouste Gulbenkian contou com a colaboração da Fundação Giacometti, que emprestou 15 obras para a exposição - entre elas um desenho inédito e uma escultura nunca antes exposta.
A exposição "Gris, vide, cris" pode ser vista de 3 de outubro a 16 de dezembro na delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris. Antes disso, a 1 de outubro, duas obras de Rui Chafes ("Carne Invisível" e "Carne Misteriosa") vão ser apresentas no Museu Nacional de Arte Moderna de Paris. O escultor português vai ainda ter duas obras na exposição permanente do parisiense Museu do Centro Pompidou.