Marco Neves: "Camões não soaria como um lisboeta, nem como um brasileiro"

Apaixonado pela língua portuguesa, autor da obra “Atlas Histórico da Escrita”, entre muitos outros livros sobre o tema, Marco Neves descobriu que "gostava mesmo muito de dar aulas" - atividade que hoje exerce na NOVA FCSH - e encontrou nas redes sociais um canal de comunicação que lhe permite chegar a mais pessoas e expandir assim a atividade de professor a um público mais geral. Em breve, terá ainda uma rubrica diária sobre a língua portuguesa na RTP.

No programa “A Escuta do Mundo” falou sobre como a língua portuguesa é uma língua viva - e de como considera esse facto fascinante: “A língua é um material criado sem plano, que depois se torna material de arte”, explicou.

Marco Neves abordou também o papel de Camões na fixação da língua portuguesa, sublinhando que o poeta provou ser possível criar, com a nossa língua, aquilo que os gregos e romanos faziam. Ou seja, que o português “podia ser um material de criação artística e criar com ela arte épica”.

Sobre o sotaque de Camões, Marco Neves acredita que o poeta teria algo próximo do que hoje identificaríamos como um sotaque transmontano — talvez com laivos do português do Brasil, devido ao uso mais aberto das vogais. Uma coisa é certa: “Ele não pareceria certamente um lisboeta a falar.”

Quanto ao futuro da língua, Marco Neves acredita que depende do português africano. O português é atualmente a língua mais falada no hemisfério sul, e há cada vez mais falantes em África. Esse crescimento pode, na sua opinião, ser essencial para manter a unidade da língua portuguesa, já que, sem esse peso político à escala global, o Brasil poderia, no futuro, considerar classificar o português do Brasil como uma língua independente.

Ouça o programa na íntegra, aqui.

"A Escuta do Mundo" é um programa de Nuno Artur Silva, para ouvir às quartas-feiras depois das 13h00, com repetição aos sábados depois das 11h00. Sempre em TSF.pt e nas plataformas de podcast.