"Moldou o tempo da sua época" e obrigou "um país preconceituoso a parar e ouvi-lo": os 80 anos de António Variações
A biógrafa do artista Manuela Gonzaga destaca, na TSF, o homem que, apesar de ser "a simplicidade em pessoa", tinha uma "personalidade muito forte" que se "impunha naturalmente"
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Na data em que se assinalam os 80 anos do nascimento do cantor e compositor português António Variações, a historiadora e biógrafa Manuela Gonzaga destaca o artista que "moldou o tempo da sua época" ao "obrigar este país tão preconceituoso a parar e ouvi-lo".
"[António Variações] moldou o tempo da sua época, moldou as mentalidades e obrigou este país tão preconceituoso, como continua a ser, a ouvi-lo e parar para dizer: 'Isto é bom. Não interessa se não há designações ou adjetivos. Isto é sedutor. É maravilhoso'. E isto tocava-nos", recorda, em declarações à TSF.
Manuela Gonzaga confessa acreditar que o artista nasceu com uma "personalidade muito forte" para "abrir caminho" e novos horizontes.
"Lembro-me de a Lena D'Água contar que o viu na televisão porque a mãe a chamou. E a mãe, bastante mais velha, estava maravilhada a dizer 'Tu tens de ver isto. Tens de ver esta pessoa'. E ela percebe e encontra essa maravilhosa pessoa na Valentim de Carvalho e ele era simplicidade em pessoa, a educação, o encanto, a sensibilidade e, ao mesmo tempo, uma pessoa com uma personalidade muito forte", conta.
Variações, contudo, era uma pessoa que se "impunha naturalmente". Tendo vivido sob uma "economia de guerra", a biógrafa do cantor destaca o percurso de um jovem de 12 anos recém-chegado a Lisboa.
"Temos de perceber como é que uma criança vem para Lisboa com 12 anos, que vai trabalhar, e a primeira coisa que faz é alugar um quarto e matricular-se num curso noturno, na Voz do Operário, de comercial. É extraordinário. Como é que eu sei disso? Porque a irmã teve de ir lá dar autorização porque ele era menor", explica.
Manuela Gonzaga revela que, poucos anos após iniciar os estudos, Variações "já estava a trabalhar num escritório": "Ele fez o seu destino", conclui.
O “espírito indomável” de António Variações e “o impacto cultural” do seu legado são celebrados esta terça-feira, em Lisboa, no dia em que passam 80 anos sobre o nascimento do criador de "Estou Além".
Iniciativa do espaço comunitário Aconchego House e do Drama Bar, que a acolhe, a celebração conta com a abertura de uma exposição da fotógrafa Teresa Couto Pinto, que registou a carreira do músico, uma mesa redonda moderada pela escritora e historiadora Manuela Gonzaga, autora da biografia "António Variações - Entre Braga e Nova Iorque", e a atuação de Ricardo Mesquita de Oliveira, criador do espetáculo "António & Variações".
A celebração culmina numa "festa de encerramento", com apelo à dança, "ao som intemporal de António Variações".