Tinha 90 anos.
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A realizadora francesa Agnès Varda morreu, esta quinta-feira, aos 90 anos . A família da artista adiantou, em comunicado, que Varda "morreu na sua casa, na noite de quinta-feira, na sequência de um cancro".
Com uma carreira com mais de 60 anos, Varda é um dos maiores nomes do cinema moderno francês. É habitualmente classificada como a "avó" do movimento cinematográfico Nouvelle Vague.
"Chamam-me a avó da Nouvelle Vague porque o meu primeiro filme é de 1954 e a Nouvelle Vague começou em 1959. Tive cinco anos de avanço. Depois meteram-nos todos no mesmo nome, mas não há uma medida entre os filmes de Alain Resnais e do François Truffaut ou entre os filmes de Rohmer e os meus", disse a realizadora sobre este epíteto.
Nacida em Bruxelas, a 30 de maio de 1928, Agnès Varda era filha de pai grego e mãe francesa. Em jovem, mudou-se para Paris para estudar Literatura e Psicologia, tendo depois enveredado pela Fotografia e pelo Cinema. Foi casada com o também realizador Jacques Demy, que faleceu em 1990.
O cinema de Varda é conhecido pelo seu caráter social e feminista. Entre os filmes de maior destaque realizados por Agnès Varda estão La Pointe Courte (1954), Duas horas da vida de uma mulher (1961), Os Renegados (1985) - filme pelo qual venceu o Leão de Ouro, no Festival de Veneza -, Jacquot de Nantes (1991), Os Respigadores e a Respigadora (2000), As Praias de Agnès (2009) e Olhares, Lugares (2017).
Em 2015, foi a primeira mulher a receber uma Palma de Ouro honorária, no Festival de Cannes, e em 2017, tornou-se também na primeira realizadora a ser distinguida com um Óscar honorário.
A relação com Portugal
Agnès Varda esteve várias vezes em território português. A primeira vez que visitou o país foi na década de 1950, enquanto fotógrafa, onde revelou ter encontrado "uma paisagem desértica" que a fez sentir-se na superfície da lua.
É da autoria de Varda uma fotografia icónica captada em 1956, de uma mulher vestida de preto, a caminhar descalça numa rua na Póvoa de Varzim, junto a uma parede com um cartaz rasgado da atriz italiana Sophia Loren.
Em 2009, a Cinemateca Portuguesa dedicou-lhe uma retrospetiva e teve duas instalações-vídeo na Capela da Casa de Serralves, no Porto.
Em 2016 foi distinguida pela Universidade Lusófona do Porto com um doutoramento 'honoris causa', tendo-lhe sido dedicado um ciclo de cinema no Teatro Rivoli.
"Portugal é um país do cinema, para mim", disse a realizadora, recordando a interação os convites de José Marques Vieira, ex-diretor do festival de cinema da Figueira da Foz, o produtor Paulo Branco e o realizador Manoel de Oliveira, e com o cinema de João Mário Grilo, Pedro Costa e João César Monteiro.
Em declarações à TSF, o produtor de cinema Paulo Branco lembra Agnès Varda como "uma pessoa de uma grande generosidade e alegria de viver".
Paulo Branco recorda que conheceu a realizadora francesa na década de 1970 e que mantinham "um contacto muito próximo, durante todos estes anos".
"Foi alguém que me acompanhou desde o princípio da minha atividade de produtor. Foi ela que me ajudou desde o início, que me deu o primeiro pontapé para que eu arrancasse", conta. "Ela já era uma cineasta consagrada e eu era um puto, um miúdo, mas ela falava comigo de igual para igual."
"Era uma verdadeira amiga. Ficará comigo até ao resto da minha vida", diz o produtor.
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Também António Preto, diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves, fala numa pessoa "extremamente generosa" e que "tinha um olhar irónico sobre si própria e sobre o seu estatuto de 'monstro' do cinema europeu e mundial".
"Experimentou, ao longo de todo o seu percurso, novas formas de olhar para a realidade e de encarar o cinema", lembra António Preto. "Era alguém que, tendo 90 anos, era profundamente jovem", conclui.
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