Morreu Eduardo Serra, o mais internacional dos diretores portugueses de fotografia com um "percurso ímpar no cinema"
Tinha 81 anos
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O diretor de fotografia Eduardo Serra morreu aos 81 anos, anunciou a Academia Portuguesa de Cinema. De acordo com fonte próxima da família, Eduardo Serra morreu no passado dia 19, terça-feira. O local não foi indicado.
Em declarações à TSF, o especialista em cinema Rui Pedro Tendinha recorda o "percurso inédito" de Eduardo Serra, que conseguiu vingar em Hollywood e ser nomeado duas vezes para os Óscares.
"Fez um percurso ímpar no cinema como diretor de fotografia, porque conseguiu algo que é quase inédito, mesmo a nível mundial, que é conseguir estar em grande destaque em Hollywood e nas grandes produções internacionais, mas também junto de um cinema independente, tanto na Grã-Bretanha, como em França. É importante também ver o seu papel no cinema português, através do amigo e com quem colaborou muitas vezes, o Fonseca e Costa, como depois também através de Fernando Lopes, nomeadamente em "O Delfim". Perde-se um homem da luz, um grande diretor de fotografia, que foi duas vezes nomeado aos Óscares, uma coisa também muito rara", explica à TSF Rui Pedro Tendinha, sublinhando a "capacidade de versatilidade" de Eduardo Serra de jogar com a luz e a sombra, adaptando a sua imagem de marca a cada filme que fazia.
"Havia uma elegância nas imagens, os filmes com a fotografia de Eduardo Serra, nomeadamente na década de 1990 e no início dos anos 2000, eram embalados com luz e sombras e o trabalho do Serra era absolutamente admirável", acrescenta.
Nascido em Lisboa em 1943, Eduardo Serra é o mais internacional dos diretores portugueses de fotografia, tendo sido nomeado duas vezes para os Óscares, pelos filmes "As Asas do Amor", de Iain Softley, e "Rapariga com Brinco de Pérola", de Peter Webber, que lhe garantiu o prémio BAFTA da Academia Britânica de Cinema.
A carreira internacional de Eduardo Serra teve início em França, onde se fixou em 1963, na sequência da perseguição de que foi alvo por participar em protestos contra a ditadura, recordou a Academia Portuguesa de Cinema, que anunciou a morte do diretor de fotografia nas redes sociais, na noite de quinta-feira.
Entre os filmes que marcaram o seu percurso contam-se "Harry Potter e os Talismãs da Morte", Partes 1 e 2, "Diamantes de Sangue", de Edward Zwick, “Belle du Seigneur”, de Glenio Bonder, e “A Primise”, de Patrice Leconte.
No cinema português, assinou a fotografia de obras como "Sem Sombra de Pecado" e "A Mulher do Próximo", de José Fonseca e Costa, "O Processo do Rei", de João Mário Grilo, "Amor e Dedinhos de Pé", de Luís Filipe Rocha, e "O Delfim", de Fernando Lopes.
Eduardo Serra recebeu os graus de comendador e de grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2004 e 2017, respetivamente, e o Prémio Sophia de Carreira, em 2014, da Academia Portuguesa de Cinema.
"Figura de referência maior no cinema mundial", Eduardo Serra "levou consigo a visão de um artista português que soube dialogar com cineastas de várias geografias, do cinema de autor europeu às grandes produções internacionais", conclui a mensagem da Academia Portuguesa de Cinema.
