Morreu Fausto Bordalo Dias, o cantor que escreveu e cantou sobre a História de Portugal
Tinha 75 anos
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Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias morreu esta segunda-feira aos 75 anos, confirmou à agência Lusa o seu agente artístico. "Fausto Bordalo Dias morreu esta noite, em sua casa, vítima de doença prolongada", disse à agência Lusa o representante da agência Ao Sul do Mundo.
Um homem do mar, deu-nos o disco "Por Este Rio Acima" (1982), do qual faz a música "É Mar Que nos Chama". Fausto nasceu, em 1948, no Oceano Atlântico, a bordo do navio Pátria, enquanto ia a "Navegar, Navegar" entre Portugal e Angola. É na antiga província ultramarina que forma a sua primeira banda, Os Rebeldes.
Filho de pais beirões, de Trancoso, aos 20 anos instala-se em Lisboa e licencia-se em Ciências Políticas e Sociais. Em 1969, vence o Prémio Revelação da música portuguesa e, logo a seguir, lança o primeiro álbum "Fausto".
Fausto era o último dos cantores de intervenção do movimento associativo. Partilhou com Zeca, Adriano, José Mário Branco e Manuel Freire o mesmo ideal político-cultural na resistência aos últimos anos de fascismo e teve também a sua quota-parte no processo revolucionário. Mas com as canções sempre em tom maior. "Naquele tempo, quando começava o discurso do político, havia uma assobiadela, uma inquietação, não fosse ele falar de mais. Os discursos dos políticos eram extremamente curtos, e depois vinham as canções", chegou a dizer, numa entrevista.
Sereno, pouco dado a futilidades do showbiz, Fausto era um artista discreto, de raros concertos. "Por Este Rio Acima", o disco duplo de 1982, é um dos mais importantes de toda a música popular portuguesa, trabalho conceptual sobre a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, o primeiro de uma trilogia continuada em 1994 com "Crónicas da Terra Ardente" e em 2011 "Em Busca das Montanhas Azuis". O derradeiro trabalho foi número um do top nacional de vendas fazendo de Fausto um daqueles casos raros de consensualidade entre público e crítica.
Esculpiu folk progressivo com África lá dentro, fez música revisitada por gerações, de Né Ladeiras a Benjamim, foi popular e erudito ao mesmo tempo.
75 anos e 10 álbuns depois, Fausto Bordalo Dias escreveu e cantou sobre a História de Portugal.
