"Não fugimos de certas questões." LAFF traz cinema do mundo árabe (inclusive sobre Gaza) a Lisboa
Os filmes podem ser vistos na Culturgest e na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, desde este sábado até ao próximo, dia 4 de outubro. João Gonçalves, da direção do Lisbon Arab Film Festival (LAFF), explica na TSF a programação deste ano
Corpo do artigo
De que forma é que pensaram a programação da edição deste ano do LAFF?
Em primeiro lugar, tentamos sempre manter uma variabilidade geográfica, ou seja, ter tanto filmes do Norte da África como do Médio Oriente. Tentamos ter uma variedade de temas, de géneros de filme, mas também demos destaque aqui a duas áreas diferentes. Por um lado, imigrantes da África subsariana que param no Norte da África a caminho da Europa e como é que é a vida deles lá, como é que são as suas dificuldades e, por outro lado, também demos algum foco à Palestina.
Temos um filme sobre Gaza depois da guerra, um filme bastante realista, mas também temos outros filmes sobre a Palestina, algumas histórias de amor, uma delas que se passa em Haifa, que é uma cidade em Israel com uma grande minoria palestiniana. Portanto, estes foram os dois grandes destaques da programação deste ano.
E há dois realizadores que vão estar presentes...
Correto. Um é o Michel Kamoun, que é um realizador libanês. E a outra realizadora chama-se Asmae El-Moudir, que é marroquina.
Que filmes é que nos trazem?
Então, o realizador libanês Michel Kamoun vai trazer um filme que se chama Beirut Hold'em, sobre um libanês que vivia na Austrália e volta ao Líbano e como é todo esse conflito de voltar ao seu país de origem — que não é igual, obviamente, àquele onde estava emigrado.
E a realizadora marroquina vai apresentar o filme Mother of All Lies (A Mãe de Todas As Mentiras, em português), sobre a sua família num contexto da guerra dos anos 60 em Marrocos.
Há alguma intenção política, isto é, o festival também pretende, nomeadamente, mostrar que é preciso, em relação à cultura árabe, superar alguns preconceitos?
Diria que sim e não.
Por um lado, não, porque o nosso festival é um festival cultural. Estamos focados na cultura, em mostrar uma cultura que também não é tão acessível ao público português. Mas, por outro lado, também não fugimos de certas questões, nós temos o interesse também de mostrar ao público esta realidade. Se nós pensarmos em Portugal, tivemos um período de ocupação árabe durante 400 anos, que é pouco estudada e há muitas coisas que ficaram desde esse período. Por exemplo, a forma como as cidades estão organizadas no sul do Tejo e, portanto, há esta ligação ao mundo árabe e nós temos esse interesse também: que o cinema seja um veículo para mostrar essa relação.