Rui Chafes, escultor, recebeu esta sexta-feira, das mãos do presidente da República, o Prémio Pessoa 2015. Um prémio contra uma sociedade "sem cultura e sem memória".
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Perante uma plateia onde, para além de muitos amigos, também estavam figuras como o presidente da República, o ministro da Cultura ou a ministra da Justiça, Rui Chafes começou com um aviso: "Espero que tenham tomado café".
Um alerta para aqueles que poderiam estar à espera de uma cerimónia de curta duração e de um discurso breve, no qual repetiu uma ideia: "Não sei se mereço este prémio, provavelmente nunca o saberei e provavelmente nunca ninguém o saberá".
Em Lisboa, no Grande Auditório da Culturgest, Rui Chafes recebeu o Prémio Pessoa, um galardão com nome de poeta e que, depois de atribuído a personalidades da área das ciências, da história ou da filosofia, foi pela primeira vez entregue a um artista da área da escultura.
O prémio por um trabalho que, garante o escultor, tem sido feito sem a necessidade de holofotes ou de distinções, mas que, ainda assim, mesmo que solitário, pouco tem de pessoal ou de revelador sobre a individualidade do artista.
"Não tenho nada de pessoal a dizer ou a exprimir no meu trabalho, nenhuma mensagem a transmitir. É uma arte para nada. Também não me interessa a arte autobiográfica. Desconfio muito e sou bastante alérgico a obras de arte que falam dos problemas pessoais do artista e da sua vida. Não considero a arte uma expressão pessoal", vincou o artista.
Dizendo-se "feliz" pela distinção, Rui Chafes salientou ainda o facto de o Prémio Pessoa servir de "apelo para que recusemos a possibilidade e uma sociedade apenas material, sem cultura e sem memória".
Antes, referindo-se ao prémio entregue ao escultor, o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou: "É um sinal de reconhecimento e de exemplo de exigência. Reconhecimento pelo percurso de absoluta singularidade enquanto artista", salientando ainda o facto de se tratar de um trabalho que é parte de um "universo lento, denso, pensado, coerente, em tudo contrário à ideia de espetáculo".
Durante a cerimónia, Francisco Pedro Balsemão, CEO do Grupo Impresa, leu um comunicado enviado por Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri do Prémio Pessoa - ausente devido a "uma forte gripe" - em que ficou assinalado o facto de ser a primeira vez que a escultura é contemplada pelo júri: "Já era tempo", escreveu Pinto Balsemão.
A cerimónia contou com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, do secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, e de Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
O Prémio Pessoa, no valor de 60 mil euros, tem como objetivo distinguir o trabalho de um cidadão português que se tenha destacado, durante o último ano, pela relevância e inovação na vida artística, literária ou científica.
Organizado pelo Expresso e pela Caixa Geral de Depósitos, o galardão já distinguiu, desde 1897, cientistas, arquitetos, historiadores, pintores, filósofos, escritores. Entre os premiados estão figuras como João Lobo Antunes, Vasco Graça Moura, José Cardoso Pires ou Eduardo Lourenço.