Os trabalhos de restauração das ruínas da cidade milenar síria de Palmira, classificada como Património Mundial pela UNESCO, avançam no verão, anunciou o diretor de Antiguidades e Museus da Síria.
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"Vamos começar a restauração pela cidadela, mas primeiro temos de garantir que não existe qualquer mina ou explosivo naquela zona", explicou Maamun Abdelkarim, em declarações à agência noticiosa espanhola EFE.
Quase durante um ano, a população de Palmira viveu sob o controlo do Daesh, que conquistou a cidade em maio de 2015.
Depois de as autoridades sírias terem terminado na segunda-feira a desminagem da zona arqueológica, onde existem ruínas greco-romanas, uma equipa da Direção-Geral das Antiguidades chegou hoje de manhã a Palmira para avaliar a dimensão dos danos, um processo que irá prolongar-se durante os próximos dois meses.
"A situação geral é boa, uma vez que 80% da zona antiga está preservada", apontou o responsável arqueológico, que está em contacto com os peritos destacados para Palmira e que teve acesso às imagens mais recentes das ruínas.
Desde que assumiram o controlo da cidade milenar, os 'jihadistas' destruíram, com recurso a explosivos, três torres funerárias do século I, o templo de Bel, o templo Bal Shamin e o arco do triunfo. Os arqueólogos verificaram danos nas ruínas greco-romanas, localizadas nos arredores da cidade, mas também no museu de Palmira, onde o EI danificou estátuas.
"Eles destruíram os rostos de vinte estátuas que estavam no museu por motivos religiosos, já que este grupo tem uma ideologia extremista", referiu Maamun Abdelkarim. Apesar dos danos, o responsável arqueológico acredita que os rostos das estátuas poderão vir a ser reconstruidas.
Os danos no museu não foram maiores porque, segundo recordou Maamun Abdelkarim, as autoridades sírias conseguiram retirar e colocar em zonas seguras 400 estátuas, antes da ofensiva 'jihadista' contra Palmira.
Restauro de rostos será "muito difícil"
Em declarações à TSF, António Dias Farinha, historiador e diretor do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Lisboa, diz que é difícil recuperar todo o património, mas sublinha que a cidade de Palmira está bem documentada, o que facilita os trabalhos de restauro.
"As estátuas dos imperadores foram particularmente sacrificadas, simbolizavam para os muçulmanos tempos que querem ver ultrapassados, e restaurar as caras destas estátuas é muito difícil, mas existem numerosas fotografias e várias publicações mostram o seu estado de conservação".
Para o historiador esta notícia traz esperança. António Dias Farinha explica que antes do controlo da cidade por parte do Daesh o património estava intacto. "Antes destes acontecimentos encontrávamos, por exemplo, estradas romanas onde se passava como se tivessem sido abandonadas na véspera; é particularmente significativo o Fórum da cidade, que estava muito bem conservado. Esta notícia deixa-nos a esperança de tão preciosos restos serem restaurados com dignidade".
Serão necessários cerca de cinco anos para restaurar os danos provocados pelo grupo radical sunita. O projeto de restauração vai contar com a colaboração da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e da população local.
Palmira foi classificada como Património Mundial pela UNESCO em 1980. A "pérola do deserto", como é apelidada esta cidade com mais de 2.000 anos, está situada a cerca de 210 quilómetros a nordeste da capital síria, Damasco.