"O menino ainda se lembra daquela vez que o seu paizinho lhe deu uma estalada em estúdio?"
Pedro Caldeira Cabral recorda, na TSF, histórias da vida de Carlos Paredes, o homem que se "fundia com o instrumento como se fossem um só"
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"O menino ainda se lembra daquela vez que o seu paizinho lhe deu uma estalada em estúdio?" A frase é de Arménio Silva, guitarrista que acompanhava pai e filho, Artur e Carlos Paredes, nas gravações para a Emissora Nacional, nos anos 1950. Foi contada diretamente ao compositor e guitarrista Pedro Caldeira Cabral, numa das viagens que os três (juntamente com Fernando Alvim) faziam pelo país fora para atuações, tendo Paredes respondido a Silva: "Ó amigo, não me fale nisso, não me lembre disso!" "E nós ríamos", acrescenta Caldeira Cabral.
Artur Paredes era um homem austero, não lhe agradava que ninguém o suplantasse, nem o próprio filho. O episódio terá acontecido quando Carlos Paredes, segunda guitarra do pai, improvisou algo que não estava previsto nos ensaios. No entanto, quando Paredes falava do pai, "falava sempre com uma enorme admiração, com um enorme respeito e dizendo sempre: 'Ele é que fez tudo, eu não fiz nada, ele é que fez tudo!'", conta o compositor.
Carlos Paredes tinha um genuíno carácter humilde, mas, em palco, transformava-se. "Ele criou uma persona como músico", considera.
No quotidiano, era uma pessoa bastante diferente. A maneira como se fundia com o instrumento, fazendo acompanhar os gestos de tocar com toda a energia dos músculos era algo que impressionava, ainda mais depois das experiências que o Artur Paredes tinha feito com o João Pedro Grácio, ao mudar alguns aspetos da cítara portuguesa, levantando os trastes a uma altura de cinco milímetros, o que condicionava qualquer executante.
Pedro Caldeira Cabral conheceu Carlos Paredes em 1967 e assistiu à preparação do seu primeiro LP, Guitarra Portuguesa, lançado no mesmo ano. Foram próximos sobretudo após 1974, nas viagens que fizeram por um país ainda de demoradas estradas, para atuações com o Grupo Outubro, em que Pedro era o condutor e Carlos, que não tinha carta, era o passageiro do lado. Também partilharam palcos internacionais, em espetáculos na Alemanha, Bulgária ou Finlândia, "com episódios inesquecíveis de convívio e humor".
A entrevista com Pedro Caldeira Cabral passa este domingo na TSF, após o noticiário das 15h00.
