O jornalista e fundador da TSF foi distinguido pelo que fez na rádio e pela promoção da cultura. A cerimónia juntou mais de uma centena de pessoas.
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O ministro da Cultura entregou esta terça-feira ao jornalista Fernando Alves a medalha de mérito cultural. Pedro Adão e Silva destacou o papel desempenhado pelo também fundador da TSF na formação de cidadãos, "tanto a ouvir rádio como a olhar para as coisas".
O ministro, que fez rádio durante vários anos, maioritariamente na TSF, diz que "nunca houve tanta procura por palavras ditas" e que a rádio ganha tanto mais quanto "for distintiva do que os outros estão a fazer, tanto em termos de notícias, como no complemento que é o comentário".
Pedro Adão e Silva acrescenta ainda, em declarações à TSF, à margem da cerimónia, que Fernando Alves "sempre nos deu uma garantia de ouvir diferente".
A decisão estava tomada desde setembro, quando Fernando Alves anunciou que se reformava.
O ministro da Cultura assistiu a uma sessão de memórias da rádio, com olhares para o futuro, sem esquecer a rádio que se faz no presente.
Francisco Sena Santos, jornalista que durante anos foi a voz das manhãs de informação da TSF e, atualmente, é professor universitário, garante que a rádio continua a ser um espaço de liberdade.
André Cunha, outro antigo repórter da TSF e agora professor, considerou o jornalista homenageado "uma das maiores figuras da rádio de Portugal e da Europa".
A radialista Inês Maria Menezes, que trabalhou nas manhãs da TSF durante mais de uma década, em vários momentos ao lado de Fernando Alves, foi testemunha das ligações que se forjam dentro do estúdio, onde uma palavra dá origem a outra, ou a mesma sugere uma música.
Foi unânime entre os que estiveram no auditório da Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, o mérito do homenageado.
Fernando Alves disse que mantém a curiosidade, mesmo agora que "o julgam retirante", e que "as crónicas podem ser notícia de outra maneira".
Aquele a quem chamam "a voz da rádio" disse, perante um auditório cheio de alunos dos cursos de comunicação social, que "a voz será uma ferramenta inútil se com ela não tocarmos quem nos escuta".
Confessou que não gostou de ser chamado, algumas vezes, "poeta da rádio", mas não desdenharia que dissessem dele "o que Italo Calvino disse um dia de Tonino Guerra: 'Há sempre poesia nas suas histórias'".
Fernando Alves recebeu a medalha de mérito cultural, reconhecendo que lhe é atribuída por muitas coisas, e também porque é "velho".
O jornalista diz que "gosta de envelhecer, tirando as dores", e agradece porque a medalha não o chama "idoso". E pediu a todos que não usem a palavra "idoso", porque "ninguém tem idade a mais".
Um aplauso de pé, dos membros da tribo da rádio e dos alunos que vão ser, mais à frente, os criadores da nova rádio, selou a cerimónia onde estiveram presentes personalidades tão diferentes como os ministros José Luis Carneiro e Mariana Vieira da Silva, o fundador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã e o escritor e antigo juiz e ministro da Justiça Laborinho Lúcio.