O "puto bué traquina" que é mais do que Cafeína de Plutónio (apesar de não conseguir escolher outra canção)
Em entrevista à TSF, DJ Dadda fala do exato momento em que percebeu que a música iria fazer parte da sua vida. Não consegue eleger um tema seu para preferido, contudo, sabe perfeitamente o que torna a música lusófona especial: "É feita de nós para nós"
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Como foi ver o público do festival O Sol da Caparica vibrar com a tua música?
Foi muito fixe. Eu estava um bocado reticente: estou habituado a tocar à noite e tocar à tarde tão cedo [a atuação foi às 18h00 desta quinta-feira], num dia de semana, [com] calor, estava um bocado naquela: "Opá, será que as pessoas vão sequer deslocar-se para me ver?" Fiquei bué surpreendido: o pessoal apareceu, o pessoal deu love, o pessoal curtiu, dançou, cantou, riu. Vi bué gente a sorrir.
Atuação feita. Ainda são 19h30. Tens uma noite toda de festival pela frente. Como é que tencionas aproveitá-la?
Não posso aproveitar assim tanto que à meia-noite tenho de entrar em palco com o Plutónio. Tenho de estar com calminha (risos). Mas vou aproveitar para ver o Julinho, o Dillaz, para relaxar um bocadinho também, descer a energia e, depois, trabalhar novamente no fim da noite para darmos um espetáculo aqui para o pessoal.
Por falar em Plutónio,dois dos teus maiores sucessos, Cafeína e Somos Iguais, são precisamente com o Plutónio, que também sobe ao palco esta quinta-feira à noite, como já disseste. Mas tens mais temas, inclusive do álbum Blackout que lançaste em fevereiro deste ano, com o SleepyThePrince. Que outros temas gostavas que as pessoas soubessem que eram teus?
Como marco todas as minhas produções no início, acho que, mesmo que seja inconscientemente, as pessoas vão saber sempre que é meu, porque meio que assino sempre.
E se as pessoas começarem a ouvir a meio? Chegam a um bar e o início já passou...
Isso é uma boa pergunta. Nunca pensei nisso (risos).
Vamos ao início de tudo. Podes explicar aos ouvintes da TSF como é que a música entrou na tua vida?
O meu pai ouvia muitas coisas. A rádio, na altura em que eu cresci — que vamos deixar assim em aberto — tocava muitas coisas que acabaram por se tornar intemporais. Havia muita música boa a ser consumida nessa altura. O que me fez perceber que eu gostava mesmo de música foi quando eu ouvi Hip-Pop pela primeira vez. Lembro-me perfeitamente de quando é que foi. Eu sempre fui um puto bué traquinas, bué rebelde, e eu estava a fazer porcaria num quarto de hotel qualquer — eu e os meus pais tínhamos ido já não sei para onde, era aqui em Portugal, mas para o Norte — e dá um vídeo do Eminem na televisão, logo das primeiras músicas, e eu fiquei colado à televisão, não me mexi o tempo todo, e aí o meu pai percebeu que tinha de me comprar aquele CD, porque era a única maneira de eu me acalmar.
E agora vamos até 2018. Numa entrevista ao Rimas e Batidas, falaste no teu objetivo na música: "Inspirar quem me inspira. É mostrar um beat a um artista que o faça dizer logo: 'É isto!'" Passaram-se sete anos. Achas que esse miúdo que ouviu Eminem pela primeira vez acha que o objetivo está a ser cumprido?
Felizmente está. Normalmente eu vou muito atrás dos meus instintos, tipo: "Eu acho que ele ia gostar disto, eu acho que ele tem alguma coisa para dizer aqui" e, normalmente, quando eu tenho esse instinto, acerto e eles ao encontro da minha cena e é bué bonito.
Mas continua tudo igual: continuo a querer inspirar quem me inspira. Já chegamos a um ponto onde isto está a ser mesmo mútuo: estou a inspirá-los, eles estão a inspirar-me a mim também e estamos a seguir todos juntos. Por isso é que as coisas depois saem da maneira que saem, acho eu.
A TSF tem perguntado aos festivaleiros quais são as caraterísticas da música lusófona que a torna tão especial. Agora, como músico, o que é que torna a música lusófona tão especial?
É nossa, é feita de nós para nós, fala das coisas que nós passamos, que nós vivemos, usando uma linguagem que nós percebemos perfeitamente, por mais que nós possamos perceber inglês, ou perceber francês, ou perceber espanhol. Nós vamos ouvir essas coisas e aquilo não nos toca da mesma forma como nos toca uma música em português, porque estão a falar a nossa língua e tudo o que eles dizem nós conseguimos sentir, porque está tudo à nossa volta.
