Divulgar a literatura e a gastronomia, explorando a obra de autores portugueses de renome, é o objetivo da iniciativa "Sabores da Escrita".
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Uma iniciativa que decorre em Coimbra, na Casa da Escrita, e que decorre todos os meses até junho.
O autor escolhido para o jantar de ontem foi Luís Vaz de Camões e, à mesa, debateram-se fomes, sedes e saciedades do poeta do século XVI.
A obra de Camões faz alusão a iguarias, banquetes e ementas, mas fica marcada sobretudo pela carência e pelas fomes, por exemplo, fome de compreensão.
José Augusto Bernardes, diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra conta que, na sua obra, Camões também tinha sede, a "sede de conhecimento".
E o que comeria Camões quando escreveu os Lusíadas? Maria Helena Coelho, do Projeto DIAITA - Património Alimentar da Lusofonia é perita na matéria, conta que não foi difícil decidir o cardápio para Camões porque descoberto que estava o caminho marítimo para a Índia as especiarias já estavam presentes e porque o poeta "haveria de ter comido muita comida oriental", e que "teria sido alimentado durante as viagens, conhecendo a alimentação dos navios", o que leva a "um mar imenso de possibilidades", mesmo que não sejam muitos os livros de receitas para a época.
À mesa de jantar esteve escabeche de peixe, caldo de peixe e desfiado de borrego, só não podia estar a batata porque "aclimatou-se em Portugal pelo século XIX, o pão nunca poderia ser de milho porque existia milho miúdo e não o milho maís".
A vereadora da autarquia de Coimbra, Carina Gomes, explica que a finalidade da iniciativa "Sabores da Escrita" foi a de "Divulgar duas formas de expressão cultural: literatura e gastronomia. Ao mesmo tempo que exploramos as obras de autores importantes da literatura portuguesa, exploramos pratos que, de alguma forma, têm a ver com a obra desses autores".
A confeção do jantar foi orientada pelo chefe Luís Lavrador. A ementa foi criada a partir de receituários do século XVI, tendo sido adotada a terminologia da época: antipasto, pasto e sobrepasto, acompanhados com vinhos odoríferos.
Os próximos autores que vão andar ao "Sabor da Escrita" são Júlio Dinis, Isabel de Aragão e Fernando Pessoa.