"Isto já não é o que era", diz quem aqui trabalha. Mas as Fontaínhas serão sempre as Fontaínhas e festa é festa. Menos para Diamantino. É de Pedrógão. Tem negro na voz e o coração dele está longe.
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Tem uma das melhores vistas para o fogo da Ponte Luiz I. Mas quem, ano após ano, trabalha nas Fontaínhas diz que a festa tem perdido dimensão. "Agora vai tudo para a Batalha e para a Boavista", queixa-se Elisabete Rosas.
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Não se vê por aqui vendedeiras de manjericos nem de martelinhos nem de alho-porro, mas cheira a caldo verde e a pimento assado e a sardinha. Joaquina Queirós também diz que o São João das Fontainhas já não é o que era, mas, ainda assim, continua a ser o mais característico. "Venha quem vier".
Este é conhecido como o melhor São João do Porto. "Diria até do país", anota Américo Gomes.
O que se diz por aqui é que a madrugada agora acaba mais cedo. Aurora Gonçalves tem 76 anos, muitos "são joões". "Na minha altura, éramos mais foliões. Ficávamos até de manhã".
Aurora veio comer as sardinhas antecipadamente, porque diz que na noite de São João, o restaurante está demasiado cheio. Joaquina, a dona do estabelecimento aqui montado temporariamente, não a deixa mentir. "Fazem fila a partir das seis da tarde e depois ficam lá ao fundo a acenar, a dizer que estão à minha espera".
O trabalho, garante, é cansativo, mas "o cansaço faz parte da vida". É sair às cinco ou seis da manhã, "chegar a casa, tomar um banho e voltar para trabalhar", porque no dia do santo também há refeições a servir.
Noutro restaurante mais adiante, José Augusto já está na grelha a assar sardinhas. Explica que quando o rabo está tostado, elas estão boas para sair da grelha, quando é interrompido por Elisabete Rosas, dona do Café Azul e Branco, tem qualquer coisa a dizer: "Isto é uma pouca-vergonha". Elisabete queixa-se de que agora não há equipamentos para chamar clientes.
Há carrosséis, mas são poucos, diz Elisabete. E há duas roulottes de farturas. Nazaré Correia, de cabelo impecavelmente apanhado, olhos pintados, é o rosto da Família Armando, o "rei das farturas". Diz que há um "antes" e um "depois" da construção da ponte do Infante. Diz que a ponte "matou o São João das Fontaínhas".
Mesmo ao fundo do Passeio das Fontainhas, está o carrossel de Diamantino Moreira. Começa por prever que este ano a festa vai ser fraca, há pouca gente. Mas diz que não quer falar mais: "Não sou daqui". Então, de onde é? "Pedrógão Grande, menina".
Diamantino tem negro na voz. Os olhos embaciam-se, fica com um nó na garganta. Perdeu todas as árvores. Salvou-se a casa. Para ele, este ano não há São João.