A Associação José Afonso tem a partir de agora um núcleo na Galiza. À volta da rádio, juntaram-se amigos galegos para recordar a herança que Zeca deixou à terra que o compreendeu como nenhuma outra.
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"A Galiza é para mim uma espécie de Pátria espiritual. Foi uma experiência maravilhosa. Algo especial. Talvez ninguém me entendesse como na Galiza". As palavras são de José Afonso, recordadas por Xulio Villaverde, presidente da recém-criada Associação José Afonso - Galiza.
"Nós os galegos tínhamos uma dívida com o Zeca que era manter a sua obra viva na Galiza", explica à TSF.
Daí surgiu a ideia de criar este núcleo na Galiza, que terá sede em Santiago de Compostela. A associação é apresentada formalmente este sábado à tarde, com uma palestra, exposições e um concerto. Tudo para não deixar esquecer o cantor português que encontrou na Galiza uma outra casa.
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"O Zeca encontrou o seu lugar na Galiza e ao lado dos galegos", recorda Xulio, "deixou aqui uma grande herança".
A Galiza nunca o esqueceu. Em 1985, quando se soube da doença que o atingia, foi no Parque das Naçons que se fez um grande espectáculo de solidariedade. Ao longo dos anos, organizaram-se muitas homenagens e o cantautor português mereceu até o nome de um parque.
Manolo Bello, antigo jornalista e produtor, que vive há muitos anos em Portugal, recorda-se da inauguração desse Parque José Afonso, em Santiago de Compostela, em maio de 2009.
Na altura, Benedito Garcia Vilar, cantor galego e amigo, que abriu as portas da Galiza ao Zeca, contou-lhe como ele escolheu Santiago de Compostela para apresentar pela primeira vez "Grândola, Vila Morena".
Foi a 10 de maio de 1972 no Burgo das Naçons, contou-lhe Benedito. Vinha de um concerto em Lugo e o Zeca disse que tinha uma canção que ainda não tinha estreado e que gostava de ver como funcionava. Nessa noite, a canção que se tornou senha no 25 de Abril foi ouvida pela primeira vez.
Na Manhã TSF, Manolo Bello lembrou uma visita que fez uma vez à casa de José Afonso na Fuzeta, Algarve. Não tinha sequer luz elétrica. Foi lá, à luz das lamparinas, que Zeca lhe mostrou "Achégate a Mim, Maruxa", uma música que recolheu dos cancioneiros populares da Galiza. Nessa noite, estiveram os dois a treinar o galego.
Mais de 30 anos depois da morte de Zeca Afonso, a Galiza passa a ter uma associação com o nome do música que adotou a região espanhola como pátria sua também.
Esta sexta-feira é inaugurada uma exposição sobre o Zeca na Casa das Crechas em Santiago de Compostela. No sábado, às 18h há uma palestra na Gentalha do Pichel sobre o «Triângulo mágico na vida e obra de José Afonso: África-Portugal-Galiza». Depois, às 22h, um concerto de homenagem ao Zeca na Sala Malatesta.
Lá estarão Francisco Fanhais, Cais da Saudade, NAO Galiza, Falua, Banda das Crechas, Do Fondo DoPeto, Tiago Fernandes, Xico de Carinho, Manolo Bacalhau e também Uxía Senlle.
Na Manhã TSF, a cantora galega, lembra que criar uma AJA Galiza era um sonho. "Faz falta animar a malta e precisamos da música do Zeca, precisamos de manter o seu legado e que as novas gerações galegas conheçam a sua obra".
"Achégate a Mim, Maruxa" e "Menino do Bairro Negro" vão fazer parte do alinhamento.
Uma dívida cumprida com o Zeca.
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