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Na noite de 15 para 16 de maio de 1968, dois dias depois das ocupações da Sorbonne e de Censier, o Odéon era ocupado por um grupo de artistas e estudantes. Depressa, a sala de teatro se transformou numa grande assembleia de ideias. Foi o espaço mais experimental de "tomada da palavra" ("prise de la parole"). Discutiu-se tudo, por todos. A ocupação duraria até 14 de junho de 1968.
Na semana passada foi organizada uma sessão intitulada "O Espírito de Maio". O programa incluía, na primeira parte, uma performance que reconstituía os principais momentos da ocupação de 68, coordenada pelo historiador e crítico de cinema Antoine de Baecque e, na segunda parte, um conjunto de 25 intervenções de intelectuais e artistas de várias gerações designada "o abecedário de Maio", cada intervenção por cada letra. A de Amor, e por aí fora.
Os títulos não podiam ser mais simbólicos, 50 anos depois: o espírito e o abecedário de Maio. Como também não poderia ser mais simbólico o que acabou por acontecer em paralelo. Um grupo de cerca de 50 estudantes - a quase totalidade deles sem bilhete - queria entrar gratuitamente e participar na sessão evocativa, agitando o alinhamento oficial. Passaram poucos minutos, desde a proibição de entrada sem bilhete, à decisão do diretor do Odeón de chamar a polícia. No intervalo do "Espírito de Maio", sentiu-se, entrando pelas janelas do teatro, o cheiro a gás lacrimogéneo. Não era encenação histórica.
Na reportagem de André Cunha, com sonorização de Alexandrina Guerreiro, cruzam-se breves registos do lado de dentro e do lado de fora do teatro, entre a reconstituição do Odéon de 1968 e o Odéon que ficou por acontecer em 2018 - um tiquetaque onde há sons que parecem vir de um palco, mas que podem vir de outro.
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