"Ousada", "insubmissa" e "uma mulher que desafiou o medo": como é lembrada Maria Teresa Horta
A última das Três Marias morreu esta terça-feira. Manuel Alegre, em declarações à TSF, considera "uma injustiça" Maria Teresa Horta morrer "sem ter tido o Prémio Camões"
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A escritora Maria Teresa Horta morreu esta terça-feira aos 78 anos, sendo que era a última das Três Marias ainda viva.
Patrícia Reis, a autora da biografia de Maria Teresa Horta, destaca à TSF o "percurso de vida singular" de uma mulher que, na opinião da jornalista, acabou por ser maltratada pelo próprio país: "Era uma mulher ousada que lutava pelas outras mulheres, tinha a sua voz e não se calava... isso penalizou-a porque Portugal não gosta de mulheres assertivas."
A também ex-editora da revista Egoísta lamenta que o reconhecimento da escritora, em vida, tenha sido "pouco" e "tardio", e espera agora "que a academia a estude mais (...), com muitas reedições, homenagens, tertúlias, conversas... porque é importante não deixar a obra morrer": "A Teresa é para sempre."
Já Cecília Andrade, que editou as obras de Maria Teresa Horta na Dom Quixote, partilha do sentimento de que o trabalho da autora não foi reconhecido em tempo devido. Fala à TSF de uma mulher "insubmissa e independente" que "nunca teve medo, [desafiando] todas as convenções, durante o fascismo". Destaca ainda o livro Novas Cartas Portuguesas, a obra conjunta das chamadas Três Marias (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa). "É um testemunho de liberdade e uma lição para o futuro e para todas as mulheres", garante.
Por seu lado, em declarações à TSF, o também poeta Manuel Alegre despede-se da amiga chegada, relembrando-a como uma mulher sem medos: "Foi uma mulher que desafiou o medo, desafiou os tabus, os dogmas, os preconceitos, cantou sempre a liberdade, cantou o amor." Alegre destaca igualmente a obra ao país: "É uma grande perda para a literatura portuguesa, para a língua portuguesa e para Portugal, porque ela foi um dos maiores poetas do século XX, um dos grandes poetas portugueses contemporâneos." O poeta reflete que, em vida, Maria Teresa Horta deveria ter tido o devido reconhecimento. "É uma pessoa que morreu, infelizmente, sem ter tido o Prémio Camões, o que é uma injustiça", considera. No que toca ao livro "Três Marias", Manuel Alegre refere que a obra é um "desafio" porque representa um "murro no conformismo".
Já José Carlos Vasconcelos, diretor do Jornal de Letras, diz que sabia do estado de saúde da escritora, mas foi apanhado de surpresa com a notícia do óbito. Destacou à TSF a forma como Maria Teresa Horta soube manter-se autêntica ao longo dos tempos: "Foi uma excelente e original poeta, até porque nunca andou atrás de modas e com uma poesia, francamente, boa e corajosa porque tratou temas e assumiu posições altamente revolucionárias." Sobre a obra "Três Marias", José Carlos Vasconcelos considera que este foi o livro que "a terá tornado famosa" e trata-se de uma "consequência das suas qualidades".

