Patuá macaense: a língua que já não se ouve na rua, mas que a "paciência" mantém há 30 anos em palco
Autora: Inês Baptista
Já não se fala nas ruas, nem se aprende em casa, mas o Patuá macaense continua a ouvir-se em palco. Em Macau, um grupo de teatro transformou uma língua quase extinta numa forma de património vivo. "A paciência ditou que hoje em dia já lá vão 30 e tal anos" de Dóci Papiaçam di Macau.
Dóci Papiaçam di Macau. É este o nome do grupo de teatro que procura manter vivo o Patuá macaense. José Bastos Silva, regente do grupo, conta à TSF que ainda se recorda de ouvir o Patuá em casa quando era criança, mas com o passar das gerações a transmissão da língua foi-se perdendo.
"Desde algumas gerações para cá que deixou de passar, exceto em poucas famílias, mas praticamente desapareceu e teve mesmo em vias de mais ninguém falar. Não fosse o Miguel e mais um grupo de pessoas terem fundado o grupo de teatro que no fundo é como que uma escola."
Sob a batuta de José Bastos Silva, por estes dias, a escola de teatro transforma-se em coro para cantar músicas de Natal, mas também a janeiras. As semelhanças com a língua portuguesa são muitas, mas o Patuá tem muitas outras influências.
"Os navegantes falavam português que não era erudito e que depois misturava-se com o crioulo de África e da Índia, por aí fora. Quando chegaram cá meteram ainda o vocabulário chinês e inglês e surgiram palavras", explica-nos José Bastos Silva.

O Dóci Papiaçam di Macau é fundado por 13 pessoas do grupo. Um deles é Miguel de Sena Fernandes, nomeado Embaixador do Património Intangível de Macau, em outubro. Diz-nos que para manter viva uma língua é preciso "paciência".
"E a paciência ditou que hoje em dia já lá vão 30 e tal anos. O Patuá agora sobrevive sob forma de teatro", atira.
O desaparecimento do Patuá começou já no Estado novo por motivos sociais e políticos. Miguel de Sena Fernandes recorda os tempos em que perguntava à avó: "O que significa aquilo? Ela só respondia assim: 'Menino aprende português e ponto final.'"
"Naquela altura falar português era sinónimo de estatuto."
Mesmo que não se ouça nas ruas de Macau, se depender deste grupo, o Patué vai continuar a ouvir-se em cima do palco.
