O grupo de teatro Pó da Terra leva à América Latina a história de uma das mulheres portuguesas que mais se destacou na luta antifascista.
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Buenos Aires e Montevideu podem não conhecer a história de Maria Lamas mas Ana Estêvão, atriz e produtora do grupo Pó da Terra, acredita que não será um problema. "Eu tenho quase a certeza que a América do Sul não sabe quem é Maria Lamas mas que tem muitas Marias Lamas na sua história".
A atriz acredita que a peça de teatro "Maria Lamas - sempre mais alto" pode gerar comparações entre as Histórias recentes de Portugal, Argentina e Uruguai. "O que é que aconteceu com as ditaduras militares na Argentina e no Uruguai? O que é que aconteceu na nossa realidade? Quais é que eram as Marias Lamas que eles tinham por lá?", lança.
Para contar mais sobre a História de Portugal, o grupo escolheu uma figura que nasceu durante a Monarquia, viveu durante a Primeira República, passou pelo Estado Novo, e morreu depois do 25 de Abril. "Ela viveu durante um período muito importante da nossa história e através da sua biografia nós vamos conseguir passar várias etapas pela qual passou a nossa história", explicou Ana Estêvão.
Para ajudar na comunicação o grupo de teatro vai acautelar legendas em espanhol mas Ana Estêvão garante que a mensagem de Maria Lamas ultrapassa línguas, fronteiras e cores políticas. "O que nós sentimos das reações do público é que há uma mensagem supra-partidária da Maria Lamas. Da esquerda à direita há pessoas a emocionarem-se com a peça a dizerem que gostaram muito", conta.
A peça de teatro "Maria Lamas - sempre mais alto", financiada pelo programa de internacionalização da DGARTES, é apresentada a 17 de agosto em Buenos Aires, depois de ter estreado em Berlim em 2016 e de ter estado em cena em vários palcos portugueses no último ano. O espetáculo conta ainda com apresentações a 18 e 22 de agosto em Buenos Aires, na Argentina, seguindo depois para o Uruguai com espetáculos marcados para 26, 27, 28, 29 e 31 de agosto.
O percurso de Maria Lamas ficou marcado pelo seu trabalho como escritora, tradutora e jornalista, assim como pela atividade política a favor das causas feministas. Desde as dicas da Tia Filomena no "Modas e Bordados" até à obra "As Mulheres do meu País", Maria Lamas revelava as desigualdades a que as mulheres portuguesas estavam sujeitas.
Fez parte da direção do Movimento de Unidade Democrática, que combateu a ditadura, participou nos Congressos Mundiais da Paz, presidiu o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e foi presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres, após o 25 de Abril de 1974.
Foi presa pela polícia política da ditadura, várias vezes, entre 1949 e 1962, altura em que se exilou em Paris.
Escreveu "As Mulheres do Meu País", "A Mulher no Mundo" e "O Mundo dos Deuses e dos Heróis", além de obras de poesia, ficção e de literatura infantil, como "A Montanha Maravilhosa", "Brincos de Cereja" e "A Ilha Verde", entre outros títulos.
Maria Lamas recebeu a Ordem da Liberdade, em 1980, e foi distinguida pela Federação Democrática Internacional de Mulheres, em 1983.