"Povo que canta não pode morrer." Michel Giacometti: o francês que cuidou, como poucos, da música regional portuguesa
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Etnomusicólogo nascido na Córsega e sepultado na aldeia de Peroguarda é homenageado este fim de semana no Festival Giacometti, em Ferreira do Alentejo. A TSF falou com José Barros, curador do evento, sobre a vida e o legado do "senhor estrangeiro" que gravou cantares e modas, de Trás-os-Montes ao Algarve, onde viria a morrer, em Faro, em 1990.
Era francês, de Ajaccio e de apelido italiano, o andarilho de barbas e cabelo já esbranquiçados que andou pelo Portugal profundo. E andou muito, de norte a sul, a recolher o cancioneiro popular de um país a preto e branco, mas com música e palavras de muitas cores que importava redescobrir.
Michel Giacometti chegou em 1959 e logo começou um trabalho de campo de várias décadas que faz dele um dos principais interessados na preservação da cultura popular portuguesa. De gravador em punho, de Trás-Os-Montes ao Algarve, o "senhor estrangeiro" registou centenas de horas de cantares e dizeres, fundou uma editora Arquivos Sonoros Portugueses, fez muita rádio e televisão, e integrou a comissão de reestruturação do Inatel, já com o país em democracia.
A ele, a cultura nacional portuguesa deve bastante. No entanto, para Giacometti, o final dos anos 1970 e os 1980 foram os "anos do desencanto". Numa das últimas entrevistas que dá, poucos meses antes da morte em 1990, diz mesmo: "O Estado nunca se interessou pelo meu trabalho."
Desde 2018, o etnólogo é homenageado em Ferreira do Alentejo, no Festival Giacometti. Decorre naquela vila do Baixo Alentejo, entre esta sexta-feira e domingo, com um programa vasto que inclui concertos, dança, gastronomia, exposições, conferências, workshops e uma romagem à aldeia de Peroguarda, onde o etnólogo está sepultado.
Este ano, sob o mote A Voz e a Polifonia, terá nomes nacionais como Teresa Salgueiro, Isabel Silvestre, Vozes de Manhouce, Sopa da Pedra, Retimbrar, Do Baú, Quatro ao Sul, DJ Gaiteirinho ou Tradballs. Do estrangeiro chegam Christophe Mondoloni (Córsega) Maria Moremarco (Itália), Momi Maiga (Senegal), Katya Teixeira (Brasil), além das arruadas dos Caretos de Podence e Zés-Pereira de Bravães. A entrada para o Festival Giacometti é livre.
