Primeiro Dia Nacional da Banda Desenhada: mais "um degrau" subido numa "arte menor"
A data é recebida com otimismo por profissionais do setor, como Penim Loureiro. O autor e professor defende a valorização desta arte e a capacidade de conquistar novos públicos em Portugal. Apesar do estigma de "arte menor" ainda persistir, apela a uma maior divulgação nas livrarias e nas escolas.
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O primeiro Dia Nacional da Banda Desenhada é recebido com entusiasmo pelos profissionais do setor. É o caso do autor e professor Penim Loureiro, que considera que esta data reconhece todo o trabalho por detrás das tiras de BD. “Acaba por ser um degrau, no sentido de valorizar o trabalho dos autores, dos editores, todas as pessoas que estão à volta dos divulgadores, todos os que estão à volta da banda desenhada."
Contudo, Penim Loureiro espera que o dia possa trazer mais visibilidade a esta que é considerada a nona arte, principalmente quando está a passar por um período muito favorável. “Eu tenho a esperança que conquiste novos públicos. Está agora num momento bastante bom para Portugal, no sentido em que há muitos bons artistas: autores, desenhadores, ilustradores."
O autor diz que a banda desenhada ainda tem o estigma de “arte menor” que é apenas para os mais novos. Estigma esse que, segundo Penim Loureiro, tem desaparecido nos últimos anos, o que “não quer dizer que desapareça completamente ou que tenha desaparecido completamente, mas nota-se muito mais suave, muito mais ténue.”
Penim Loureiro aponta dois locais que podem ajudar a combater este estigma. Começa pelas livrarias, que, segundo o autor, “muitas vezes tratam a banda desenhada com pesos e diferentes do resto da literatura.” O artista defende que seria bom que as livrarias divulgassem mais a banda desenhada, sobretudo a portuguesa, apelando a que se valorize a arte nacional, como acontece na França. “[Na França,] a banda desenhada francesa é acarinhada de uma forma global e homogéneo e transversal por todo o género das instituições”, destaca.
Além dos estabelecimentos comerciais de livros, os estabelecimentos de ensino também podem ajudar a normalizar a banda desenhada, até porque pode servir de trampolim para outras obras.
“O próprio ensino deveria avançar mais relativamente à introdução de livros de banda desenhada na leitura. Até porque a banda desenhada acaba por ter um certo fascínio, no sentido de que consegue iniciar a leitura toda uma faixa etária que, se calhar, estaria mais disponível para ler histórias como o ritmo de leitura mais rápido, com muitas imagens. No fundo, a banda desenhada acaba por também fazer essa ponte para a outra literatura”, como a poesia, sublinha.
A celebração deste dia foi proposta pelo partido Livre e aprovada por unanimidade pelos deputados da Assembleia da República, no final de setembro.
Em 2023, 22% dos leitores em Portugal compraram banda desenhada e manga, enquanto 11% leu estas obras. São dados da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, sugerindo que a maioria das pessoas comprou mais para oferecer do que para ler. Além disso, a tendência para comprar banda desenhada vai diminuindo consoante aumenta a idade.
Até dia 27 está a decorrer na Amadora o 35.º Festival Internacional de Banda Desenhada, em locais como o Parque da Liberdade e a Casa Roque Gameiro.
