Produção de documentários em Melgaço: “Antigamente o nosso céu era fantástico”
Festival internacional, MDOC, levou alunos finalistas de cinema, na última semana, a produzir filmes para a edição 2025. Certame atingirá no próximo ano 40 filmes e 27 exposições fotográficas, sobre temas relacionados com aquele concelho do Alto Minho
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O MDOC - Festival internacional de Documentários de Melgaço, de decorreu até este domingo, completará, no próximo ano, um total de 40 filmes e 27 exposições fotográficas, sobre temas relacionados com aquele concelho do Alto Minho. O certame aponta as câmaras, sobretudo para as temáticas da emigração e do contrabando, que deixaram marcas evidentes no território. E segue o lema “espaço, memória e fronteira”.
Na última semana, quatro equipas estudantes finalistas de cursos de Cinema e três fotografas, andaram no terreno a preparar filmes e projetos fotográficos para apresentar em 2025.
A edição deste ano contou, pela primeira vez, com uma fotografa luso-descendente nas equipas. “Vivo em Paris, estudei jornalismo, mas como gosto de fotografia e documentário, este verão quis participar no MDOC. O meu projeto tem a ver com mulheres e o presente. Está ligado à emigração e à história daqui”, contou Sabrina Alves.
Lucas Coca Matias, João Pedro Filippini e Fernando Oikawa Garcia, uma equipa de alunos finalistas do curso de Cinema, na FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado, de S. Paulo, no Brasil, atravessou o Atlântico, para participar numa das residências do MDOC, orientadas pelo realizador Pedro Sena Nunes.
“Temos de registar a paisagem e a luz está boa”, comentaram entre si os três amigos, que escolheram desenvolver um projeto documental em conjunto sobre as transformações da paisagem e do horizonte. No papel de “realizador”, Lucas explicou que o tema surgiu “a partir das eólicas que chamam muito a atenção quando se chegamos a Melgaço e de uma notícia do jornal, sobre o facto de estar previsto ser erguida uma torre de condução de uma linha alta tensão”.
Nas ruas de Melgaço, entrevistaram população sobre o que os seus olhos veem quando olham para cima.
“Não é a mesma coisa. O meu céu, o nosso céu, era fantástico. Hoje não. Hoje é um céu triste”, disse
António Rodrigues, antigo emigrante em França, durante meio século, Melgaço, comentando que a sua terra-natal, mudou ao longo do tempo. Enquanto olha a câmara de filmar da equipa brasileira, fala da míngua de população e da tristeza que lhe provocam as novas cores que o seu olhar melancólico vê no firmamento.
À TSF, Lucas Matias, comentou que a experiência, naquela localidade situada no extremo Norte do país, foi “magnífica e muito enriquecedora”.
“É uma vila muito acolhedora e bonita por si só. Antes de vir li o livro “Viagem a Portugal” de José Saramago, a parte em que ele fala de Melgaço, e existem ali algumas palavras bonitas, sobre a igreja e um símbolo que existe na parede da igreja. Poder ver e interagir com esta vila histórica é uma bela oportunidade”, disse, acrescentando: “A orientação de toda esta equipa [do festival], às vezes, precisamos dela na universidade. Aqui foi uma imersão completa, com pessoas extremamente competentes. Como experiência, não existe igual”.
Pedro Sena Nunes e o seu coadjuvante João Peixoto, comandaram os tratados de preparação de documentários e fotografia para apresentar no MDOC de 2025.
“O que aqui é potente é que este seja um espaço de laboratório e experimentação para quem ainda não está na profissão, mas também já não está na academia. Então que seja um lugar de transição. É essa a verdadeira magia do projeto que vai para a décima edição”, afirmou o realizador, que celebra a décima edição do festival que viu nascer, com os olhos postos no futuro.
“Dez anos de MDOC é incrível. Há uma frase do Jorge Listopad, a quem dediquei recentemente um filme, que subscrevo e que é ‘a minha memória é para manhã’. Portanto, estou sempre a pensar no que se segue”, disse.
