Rádio Clube de Angra em risco de fechar: "É preferível encerrar com dignidade do que encerrar empilhado em dívidas"
O presidente da rádio lamenta que se possam perder postos de trabalho, mas sobretudo que se perca uma instituição com um peso histórico e um papel importante para os Açores, que pouco a pouco perde o pouco jornalismo que por lá ainda se faz
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A rádio açoriana com 78 anos é mais um órgão de comunicação em risco de extinção nos últimos tempos. O rádio clube de Angra vai propor a extinção daquela que é uma das rádios mais antigas dos Açores que já teve 40 trabalhadores e está agora reduzida a quatro.
Setenta e oito anos depois as despesas são maiores do que as receitas e há falta de apoio dos sócios e dos próprios açorianos. Pedro Ferreira, presidente da instituição, adianta os motivos que podem levar ao encerramento.
“Nós temos vindo a registar um decréscimo das receitas publicitárias porque as empresas têm optado por outro tipo de ferramentas para fazer as suas publicidades, nomeadamente as redes sociais, e os custos de funcionamento de uma instituição como o rádio clube de Angra, que neste momento já só tem quatro funcionários são cada vez maiores. Aliás, agora temos os direitos conexos, mais uma prestação mensal que vamos ter que assumir, e portanto cada vez mais aumentamos os custos e cada vez mais temos menos receitas. Sendo assim, a Rádio Clube de Angra dá em média um déficit mensal à volta dos 4500 e cinco mil euros. Nós precisávamos de faturar, para termos um resultado zero ao fim de cada mês à volta de dez mil euros e temos uma faturação de 4500 euros, mais coisa menos coisa, um mês melhor, outro pior", denuncia.
O governo regional deve pagar entre esta segunda e terça-feira um apoio de 20 mil euros. Ainda assim, Pedro Ferreira diz que o Executivo tem falhado noutros aspetos.
“Do PROMEDIA, que é aquele regime de apoio anual e que nos faz face a 30% das despesas com eletricidade e comunicações, o governo regional este ano ainda não pagou nenhuma das prestações e estamos a falar de o Rádio Clube de Angra faz uma candidatura à volta de 12.500 euros de encargos com eletricidade e com comunicações ao longo de um ano e o apoio é de 30%, portanto estamos a falar de 3800/quatro mil euros dos 12 mil euros totais de custos que temos nestas áreas. Enfim, é o apoio que está determinado, é melhor do que nada. O que é certo é que não chegou", afirma.
O executivo já respondeu a esta afirmação. Paulo Estevão, secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades diz que o governo não pagou as despesas porque a rádio não apresentou as contas.
“Foram pagas, até ao momento, duas portarias: a primeira foi paga à Rádio Clube de Angra, assim como a todos os outros órgãos de comunicação social, e a segunda portaria, que é de outubro, não foi paga à Rádio Clube de Angra. Foi paga aos outros órgãos de comunicação social, porque a Rádio Clube de Angra não apresentou esse conjunto de despesas até ao mês de outubro, apresentou apenas em novembro e em dezembro. Todos os outros órgãos de comunicação social privados receberam apoios nessa segunda portaria de outubro, já a Rádio Clube de Angra tinha recebido o apoio no mês de julho, no mês de outubro não recebeu porque não apresentou o conjunto de despesas”, explica.
O governo adianta que vai pagar nos próximos dias o apoio de 20 mil euros e que, em 2025, o valor da verba dada à comunicação social vai quadruplicar.
“Este apoio foi criado exatamente para poder fazer face às necessidades da comunicação social privada e será pago hoje ou amanhã, já estará nas contas dos órgãos de comunicação social privados dos Açores, portanto esse é um apoio além do PROMEDIA. É um apoio suplementar, extraordinário, que permite dar este apoio aos órgãos de comunicação social tendo em conta a situação muito urgente. Nós já temos alterações do ponto de vista dos programas de apoio, para o próximo ano já foi inscrito no plano e no orçamento uma verba para o ano que vem, de 2025, de dois milhões de euros, ou seja, quadruplica os valores que têm sido atribuídos aos órgãos de comunicação social”, vinca.
Pedro Ferreira, o presidente da instituição, admite que não há interesse das pessoas em manter a rádio viva.
“Não havendo de facto por parte da sociedade terceirense e dos sócios do Rádio Clube de Angra, em particular, uma manifestação de preocupação relativamente à sustentabilidade futura da instituição, a direção da Rádio Clube de Angra não vê grandes alternativas que não seja, em vez de entrar num campo de assumir empréstimos bancários para pagar contas, viver de dívidas como já a instituição viveu no passado, de propor claramente aos sócios que se já não faz falta à sociedade a Rádio Clube de Angra, então que a rádio tenha a dignidade de saber fechar a sua porta e encerrar a sua emissão, porque é preferível encerrar com dignidade do que encerrar empilhado em dívidas, com contas por pagar e com vencimentos em atraso", lamenta.
O presidente da rádio lamenta que se possam perder postos de trabalho, mas sobretudo que se perca uma rádio com um peso histórico e um papel importante para os Açores, que pouco a pouco perde o pouco jornalismo que por lá ainda se faz. O governo diz que tem todo o interesse em apoiar os órgãos de comunicação social dos Açores e diz que a oposição também.
