"Reflexão sobre privilégios" dá prémio do World Press Photo a Maria Abranches, portuguesa disputa agora "Fotografia do Ano"
A foto faz parte de uma reportagem sobre uma empregada doméstica "traficada de Angola para Portugal aos nove anos, sob falsas promessas de educação"
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A fotógrafa portuguesa Maria Abranches está entre os 42 vencedores regionais do World Press Photo, esta quinta-feira anunciados, e está agora na final da categoria "A Fotografia do Ano", a anunciar no próximo dia 17 de abril.
Maria Abranches conquistou o prémio na categoria Histórias, na região Europa, com a reportagem "Maria" sobre a empregada doméstica e cuidadora Ana Maria Jeremias, "traficada de Angola para Portugal aos nove anos, sob falsas promessas de educação", como indica a apresentação do projeto na página do World Press Photo na Internet.
Na vida de Ana Maria "ecoa a experiência de inúmeras mulheres em toda a Europa", prossegue a memória descritiva do projeto, que acrescenta: "Passou mais de quatro décadas a trabalhar na casa de outras pessoas, o que constitui uma contribuição vital para as suas vidas diárias. Ao centrar-se na história de Ana Maria, a fotógrafa tem por objetivo incentivar a reflexão sobre privilégios, assim como honrar a sua vida e a de tantas outras mulheres como ela."
O projeto "Maria", que já tinha sido distinguido no festival italiano Cortona On The Move e nos Prémios Novos Talentos FNAC, é um trabalho desenvolvido no âmbito da masterclass Narrativa, organizada pelo fotojornalista Mário Cruz.
Maria Abranches optou pela fotografia documental e pelo fotojornalismo, para "destacar questões críticas, amplificar vozes marginalizadas e inspirar mudanças". Formada em Arquitetura, área em que trabalhou durante alguns anos, optou mais tarde por fazer o curso da Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual -, em Lisboa, o que a levou a um estágio em fotojornalismo no jornal Público, "após o qual decidiu dedicar a sua carreira exclusivamente à fotografia".
Abranches mantém a colaboração com o seu jornal de origem e trabalha também com outros meios, como a agência Reuters, o jornal The Guardian e a Fundação Calouste Gulbenkian.
Maria Abranches desenvolveu um interesse pela história colonial portuguesa enquanto documentava a produção de "Pele Escura" (2021), um filme de Graça Castanheira que aborda o racismo e a inclusão.
Esse trabalho está na origem de um dos seus primeiros projetos nesta temática, "Trançar o Mundo" (2022), a partir dos penteados de origem africana e do seu significado cultural, numa abordagem feita com cabeleireiros afrodescendentes.
O projeto "Maria" começou a tomar forma em 2023-2024, quando foi selecionada para a Masterclass Narrativa. O projeto foi finalista do Prix Virginia 2024, do APhF Dummy Award e do Blow Up Press Book Award.
No ano passado, Maria Abranches recebeu o prémio LensCulture para talentos emergentes.