"Retrocesso quase humilhante." Cultura sem Ministério é perpetuar ideia de que esta área "é açúcar por cima do bolo"
Em declarações à TSF, Pedro Abrunhosa comenta a escolha da jurista Balseiro Lopes para esta tutela: "Se eu para o Ministério da Economia escolhesse um músico, certamente, os economistas não ficariam muito contentes. Creio que não será malícia, mas é claramente uma visão muito reduzida"
Corpo do artigo
O músico Pedro Abrunhosa é crítico em relação à "descida de divisão" da Cultura, que agora, com o novo Governo de Montenegro, perde o ministério próprio e junta-se à Juventude e ao Desporto. No anterior Governo, a Cultura estava entregue a Dalila Rodrigues. Agora, é Margarida Balseiro Lopes quem lidera a pasta, que tem a companhia da Juventude e do Desporto.
O também produtor, ouvido pela TSF, afirma que recebeu "com surpresa e com pena" esta notícia. "A Cultura tem sido sucessivamente maltratada, com honrosas exceções [como] o magistério do professor Lucas Pires e de Manuel Maria Carrilho. O discurso sobre a Cultura já cansa. Mas a Cultura é talvez um dos fatores mais importantes para a afirmação da soberania em relação à hegemonia do universo digital. E a Cultura precisa que o Governo a encare como um dos fatores estruturantes. [...] A mim parece-me que é um retrocesso, não só civilizacional, mas sobretudo uma negação ao povo português", lamenta Pedro Abrunhosa.
A Cultura tem andado sempre entre "altos e baixos", não poucas as vezes relegada a uma secretaria de Estado. O músico Pedro Abrunhosa lamenta igualmente que se olhe para este sector "como se fosse uma espécie de açúcar que se coloca em cima do bolo, mas o bolo é que interessa, não é?"
A verdade é que a Cultura, apesar de esquecida, "por si só, conseguirá manter-se".
A ministra Margarida Balseiro Lopes, jurista de formação, tem um desafio pela frente. Pedro Abrunhosa lembra que "a Cultura é um local de salvação" e, por isso, "precisa-se de agentes políticos que entendam estas realidades".
A Cultura é cimento. Se eu para o Ministério da Economia escolhesse um músico, certamente, os economistas não ficariam muito contentes. Creio que não será malícia... Mas [a escolha de Balseiro Lopes] é claramente uma visão muito passadista, muito reduzida, diria mesmo quase humilhante, não para os agentes culturais, mas para o povo português
