Na segunda noite do Rock In Rio Lisboa 2016, 74 mil pessoas celebraram a música dos Queen. No Parque da Bela Vista, o legado de Freddy Mercury esteve bem presente, mas Adam Lambert dividiu opiniões.
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A voz rainha dos Queen, aquela que nos deixou em 1991, não se ouviu mas, por várias vezes, o imortal Freddy surgiu nos ecrãs, num espetáculo de enormes proporções cénicas e muita luz.
Começou quente a tarde, com quase 30 graus a prometerem muito calor humano e mais uma viagem à realeza das memórias rock. E assim foi com «Stone Cold Crazy», «Somebody To Love» ou «Love Of My Life» com Brian May a cantar com o público, aquele que foi um dos momentos mais tocantes da noite de ontem.
O guitarrista dos Queen, de 68 anos, foi a estrela de uma banda que ainda não está cadente, mas cujo atual vocalista convidado (sublinhe-se), o ídolo americano Adam Lambert, não é consensual.
Sejamos claros: Freddy Mercury só houve um e, mesmo que Lambert seja um razoável showman e faça vibrar, sobretudo, o público mais jovem, sentia-se alguma nostalgia nos olhares dos mais velhos. O sucessor de Paul Rogers na ingrata (mas extremamente honrosa) missão de substituir uma das vozes mais carismáticas de sempre, tem um timbre e vibrato talvez demasiado agudos para o próprio bem de temas como "Another One Bites The Dust" ou "Under Pressure", esta precedida de um enérgico solo de bateria do também sexagenário (só no ID) Roger Taylor, aqui "ao despique" com o filho Rufus que também esteve em cena, nas percussões.
Se havia uma alteza nos Queen, outra mantém a chama viva, com guitarradas únicas, que ontem tiveram clímax entre "I Want It All" e "Who Wants To Live Forever". Rei morto, rei posto, mas não é o americano dos olhos bonitos; é o veterano britânico que podia ser astronauta, mas que só nos quer levar ao céu com "Bohemian Rhapsody".
um público em final de noite com as palmas de "We Will Rock You" e os cânticos de "We Are The Champions". Coisas que são recorrentemente cantadas fora de âmbitos musicais, só para se ter uma ideia da relevância que sua majestade, a música dos Queen, continua a ter, independentemente de quem está atrás dos microfones.
Mais cedo, ainda a noite não tinha caído, também Fergie deu espetáculo. A solo, a vocalista dos Black Eyed Peas surpreendeu pela amplitude de estilos musicais que trouxe ao Palco Mundo, num show de sensualidade e empenho vocal, apoiada por um corpo de bailarinos a condizer. A norte-americana de 41 anos baseou muito da hora e meia que esteve em palco com a sua pop/R&B de hits como "Clumsy" ou "Big Girls Don't Cry", mas também vestiu a pele de uma rocker rebelde - ou despiu-(se) deverá dizer-se - para passar pelos Rolling Stones ou Led Zeppelin e ficar bem vista. O sol já mal se via, mas o ambiente continuava... quente.
Seguiu-se Mika, o britânico nascido no Líbano, que também já possui um considerável número de canções êxito e foi com os refrões de "Relax (Take It Easy)" ou "Grace Kelly" que pôs milhares de gargantas a cantar e telemóveis a brilhar. Lembrou uma liturgia de melodias conduzida pela confiança de um performer ora sereno, ora em constantes correrias pelas línguas do mega palco. E tempo teve para empregar os agudos que lhe conhecemos para arriscar um fado a la Mika, com a viola de Jorge Fernando e versos de "Meu Fado". Mariza, ela mesma, no final juntar-se-ia em palco ao autor de "Relax" e "Grace Kelly" para gáudio do muito público que já se acumulava à espera dos Queen.
Antes de tudo isto, o palco principal do RiR abre, durante toda esta 16ª edição, com Rock In Rio - O Musical, uma curiosa viagem nos tempos e nos espaços do festival à escala planetária, que já leva 30 anos, interrupções incluídas.
Bailarinos que também são atores e cantores contaram-nos a história do mega evento que começou num Brasil ainda sob ditadura e com muitos sonhos pela frente. Do rock mais duro do cartaz de 1985 com refrões de AC/DC e Scorpions, até ao Rock In Rio USA do ano passado, a história do evento foi também uma história de amor entre dois festivaleiros que Isaac Alfaiate, o único português no elenco, ajudou a reunir, cantando bandas nacionais nos vários cartazes de Lisboa, desde "Chico Fininho" até "A Minha Casinha".
O segundo ato do Rock In Rio Lisboa 2016 começa no próximo sábado, dia 27, com o rock pesado dos Hollywood Vampires de Alice Cooper, Joe Perry e do ator Johnny Depp.