Um Canto de Liberdade é o nome do espectáculo que recria o 25 de Abril de 1974, durante três dias, na parada Chaimite, da EPC de Santarém, de onde partiu a coluna do capitão Salgueiro Maia para se juntar ao restante Movimento das Forças Armadas.
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Ao todo, 130 pessoas mobilizaram-se para este espectáculo de teatro comunitário, que junta população ao trabalho de encenação e composição construído com base em factos históricos, a partir de música de Flávio Medeiros, encenação e cenografia de Amauri Alves e Henrique Dias Alves.
Em 11 cenas há momentos de recriação da guerra do ultramar, do sofrimento das famílias quando recebiam a noticia da morte de filhos e maridos, da censura, dos presos políticos, do lema de propaganda - Fátima, Fado e Futebol - do descontentamento e da revolução.
Trata-se de "teatro comunitário para acordar as pessoas", afirma Amauri Alves, que adianta que “o espectáculo começa com uma discussão que é muito contemporânea, de pessoas que não fazem a mínima ideia do que é uma ditadura, um governo fascista, uma repressão e defendem uma ditadura. Então, o espectáculo é para isso, para acordar as pessoas e honrar as pessoas que lutaram pela liberdade em Portugal e no mundo".
Aos 60 anos, o encenador nascido no Brasil, que diz ter decidido a carreira do teatro aos 10 anos de idade, reparte com o filho, a criação do espectáculo e conta ainda com ajuda de um grupo de alunas da escola profissional de Vila do Conde, onde é professor de animação sócio-cultural e coordenador de projetos.
O encenador considera que este é um espectáculo com algumas caraterísticas especificas, onde uma equipa de profissionais de teatro faz a coordenação mas com uma quantidade de pessoas cheias de talento, que “nós encontrámos aqui na comunidade e que têm amor pelo teatro, pela cidade, pela história e amor pela liberdade” ingredientes que acredita fazerem uma mistura que “com toda a certeza, vai dar um bolo excepcional!”
A ironia não vai faltar, com alusão ao lema do regime salazarista, do Deus, Pátria e Familia, para entreter e manipular a população e que só há mudanças quando povo se une. “É por isso que os governos gostam tanto de manter o povo dividido, não é? Enquanto está dividido, não tem força suficiente para uma grande mudança.”
Nestas declarações à TSF, Amauri conclui que, “estamos em Santarém, a realizar o espectáculo aqui neste lugar de onde partiram os militares que acompanharam o capitão Salgueiro Maia e o que tentamos mostrar é que as pessoas percebam que isto não é apenas uma história, são factos. Que não é apenas uma história para estar nos livros. É real, aconteceu. Nós precisamos de fazer de tudo para evitar que aconteça novamente e só não vai acontecer de novo, se as pessoas tiverem plena consciência que não, ditadura não é boa para ninguém”
“Um Canto de Liberdade” é um dos pontos altos da vasta programação das comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de abril, porque é um daqueles eventos, que o vereador da cultura da câmara de Santarém, Nuno Domingos, considera que tem mais pessoas a participar, a celebrar os momentos-chave daquele dia que permitiu a transição de ditadura para a democracia e isso “é único”.
O espectáculo tem estreia marcada para esta quinta-feira, dia 18, às 21h30 e vai ficar em cena até domingo, na parada da antiga escola Prática de Cavalaria de Santarém. Depois, quem sabe, se não haverá uma digressão.
