Falar de Maria Teresa de Noronha é falar de Fado. E, na edição integral das gravações da fadista, é possível perceber que a sua história e a do fado se confundem.
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"Emoção, requinte e personalidade." É assim que o musicólogo Rui Vieira Nery descreve Maria Teresa de Noronha ou Dona Maria Teresa de Noronha - tal é a sua importância no mundo do fado, um estatuto que quase contrasta com a alcunha "Baté" como era carinhosamente tratada pelos que lhe eram mais chegados.
Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Seródio - um nome que denuncia que a fadista era de famílias nobres - não nasceu na comunidade popular do fado mas, ainda assim, cativou essa comunidade e foi a primeira grande representante do "fado aristocrático".
Começou cedo a tratar o fado por tu, quando era muito nova cantava apenas para os familiares e amigos, mais tarde, acabou por se tornar uma das mais marcantes vozes do século XX.
"Foi reconhecida, aceite e admirada pelo público de fado em geral. Foi também a primeira fadista portuguesa que teve um programa regular na rádio portuguesa, na antiga Emissora Nacional" e isso, assegura Rui Vieira Nery, acabou por ser uma ajuda muito grande na difusão do fado à escala nacional.
"Era uma extraordinária fadista", exclama o musicólogo.
Para além da voz, que chegou a rivalizar com a de Amália Rodrigues, era ainda "uma mulher muito preocupada com as letras das músicas, algo que na época não era uma questão muito relevante".
A fadista ficou ainda conhecida por não deixar esquecer o repertório do tradicional, "numa altura em que se estava a desenvolver um repertório novo de fado, ela esteve sempre muito preocupada em preservar a memória daqueles fados tradicionais. Muitas vezes procurava falar com fadistas mais velhos para lhe ensinarem alguns fados que estavam a ficar esquecidos", recorda Rui Vieira Nery.
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A ousadia da fadista também não fica esquecida, Maria Teresa de Noronha chegou mesmo a atrever-se a cantar o fado de Coimbra, que, como mandava a tradição, só podia ser interpretado por homens.
Rui Vieira Nery afirma que foram muitas as interpretações que a imortalizaram. Talvez, para este musicólogo, as mais marcantes tenham sido aquelas em que o seu pai, Raul Nery, a acompanhou na guitarra.
Em 1962, Maria Teresa de Noronha põe fim à carreira artística. O seu fado era terminar como começou: a cantar apenas para a família e para os amigos mais chegados.