"Racismo no País dos Brancos Costumes" acaba de chegar às livrarias. O novo livro da jornalista Joana Gorjão Henriques mostra como a discriminação racial ainda é real e atravessa diversas áreas da sociedade.
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Da Justiça, à Educação, passando pela Habitação ou pelo Emprego. O racismo existe em Portugal, é transversal a diversas áreas, mas nem sempre é identificado e vive sob um "pacto de silêncio". Joana Gorjão Henriques quis mostrar as diversas facetas da discriminação racial.
A jornalista, que há dois anos publicou "Racismo em Português: O Lado Esquecido do Colonialismo", voltou ao tema para revelar que o Racismo vai muito além da ofensa pessoal. No livro que acaba de lançar, "Racismo no País dos Brancos Costumes", Joana Gorjão Henriques revela algumas experiências para provar a discriminação existente.
Um exemplo é a procura de casa. Um cidadão negro com sotaque africano e um cidadão branco com sotaque lisboeta ligam para o mesmo número de um apartamento que está à venda. Ao primeiro é dito imediatamente que a casa já não está disponível; para o segundo, que liga dois minutos depois, a casa volta a estar à venda.
Em conversa com Fernando Alves na Manhã TSF, Joana Gorjão Henriques defende que em Portugal há uma Justiça para brancos e uma Justiça para negros. "É mais fácil um cidadão negro ser parado pela polícia, ser revistado, ser detido, depois ir a julgamento e a pena ser mais dura, ficando mais tempo na prisão", explica.
"Não é apenas o cidadão que discrimina, o polícia que é mau ou o juiz que conscientemente está a aplicar uma pena mais pesada, mas é todo o sistema que se orquestra de uma maneira em que, quando chega à barra do Tribunal, o cidadão de origem africana já vai derrotado".
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No livro, Joana partilha experiências de vida. Por exemplo, o caso de um advogado negro que em Tribunal foi confundido com um arguido, que já na Faculdade era dos únicos negros que faziam o curso e antes disso, na escola, tinha de se sentar na fila de trás - as cadeiras reservadas aos meninos negros.
São histórias de resiliência e resistência, de pessoas que lutaram desde sempre contra o sistema, que tiveram a coragem de se expor, que a jornalista quis revelar.
Na Manhã TSF, Joana Gorjão Henriques lembra que a mudança da Lei da Nacionalidade em 1981 veio dificultar ainda mais, ao passar a impedir os filhos de imigrantes nascidos em Portugal a ter acesso imediato à nacionalidade portuguesa.
A ideologia colonial não foi superada - foi varrida para debaixo do tapete, defende a autora. "As novas formas que a ideologia colonial assume permitem que continuemos a achar normal e a não nos indignarmos o suficiente para lutar contra determinado tipo de injustiças que acontecem numa sociedade dividida - entre cidadãos de primeira e cidadão de segunda".
"Racismo no País dos Brancos Costumes", de Joana Gorjão Henriques, tem edição da Tinta-da-China.