"Sou artista, imigrante e portuguesa." Cleo Diára, a atriz que chegou a Cannes num "caminho com muitas lutas e vitórias"
Cleo Diára foi distinguida com o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, pela sua interpretação em "O Riso e Faca", a mais recente longa-metragem de Pedro Pinho. Em entrevista à TSF, falou sobre ser uma artista imigrante em Portugal: "É um caminho de muitas lutas e vitórias."
Corpo do artigo
O Riso e a Faca, coprodução entre Portugal, Brasil, França e Roménia, segue a história de Sérgio, um engenheiro ambiental português que vai trabalhar numa organização não-governamental em África no projeto de uma estrada entre o deserto e a selva.
"Podia ser China, Guiné-Bissau, mas foi para Cabo Verde com o pai e isto levou que ela não crescesse com a mãe depois de algum tempo. Isso não se vê no filme, mas isso foi onde eu e o Pedro Pinho partimos para construirmos a Diára. É empoderada, decidida, segura e o resto acho que o público deve descobrir", contou a atriz à TSF.
Cleo Diára tenta encontrar-se nas personagens que interpreta e, por isso, acredita que também no futuro possa ser empoderada e alguém sem medo da sua própria força e de ser quem é, acrescentou.
Sobre a distinção em Cannes, a atriz lançou a questão: "O cinema português representa em que termos a racialidade e a diversidade? Há muitos atores negros a fazer televisão?" Para Cleo Diára, a pergunta deve ser dirigida ao público, aos produtores e guionistas. Todos devem refletir.
"E a racialidade não tem necessariamente de ser negra. Falamos de ciganos, agora do sudeste asiático, das pessoas brasileiras. Nesta diversidade que compõe Portugal hoje em dia", sublinhou.
Apesar de ter conquistado o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, a atriz cabo-verdiana não sente que tem poder para mudar o panorama na cultura portuguesa. Pelo menos não sozinha, frisou: "São várias as pessoas que estão e a contribuir para essa mudança."
O holofote está em cima de mim, porque recebi o prémio, mas há muitos artistas portugueses a fazerem coisas extraordinárias. Ser uma artista imigrante em Portugal é um caminho de muitas lutas, conjuntamente com vitórias. Acho que é algo transversal. Sou artista, uma imigrante e portuguesa e é um caminho de construção, com algumas dificuldades pela questão da racialidade que me é posta em cima. Pretendo continuar aqui e ir para o mundo também tentar que as coisas possam modificar-se e ser humanizada.
Cleo Diára, formada pela Escola Superior de Teatro e Cinema, tem trabalhado com estruturas como Aurora Negra e A Missão da Missão. No cinema, fez parte do elenco de filmes como Diamantino, de Gabriel Abrantes, Vera o Danado, de Pedro Cabeleira, e Nha Mila, de Denise Fernandes.
Além de Cleo Diára, o filme O Riso e a Faca conta com interpretações de Sérgio Coragem e Jonathan Guilherme.
O Riso e a Faca é a segunda longa-metragem de ficção de Pedro Pinho, depois de A Fábrica do Nada, também estreada em Cannes em 2017, onde recebeu o Prémio Fipresci.
