Em 2018, é a olhar para o futuro que o principal teatro municipal parisiense celebra 50 anos de existência.
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O Theâtre de la Ville foi criado a 10 de dezembro de 1968 como espaço de pensamento e de abertura ao mundo. O diretor do teatro e encenador, Emmanuel Demarcy Mota, explica que "a ideia do Théâtre de la Ville, nessa época, era de criar uma abertura a outras culturas através da música do mundo, onde grandes cantores do mundo inteiro vieram pela primeira vez a Paris. Foi o caso de Zeca Afonso, que cantou duas vezes no Théâtre de la Ville. Foi um espaço fundamental durante períodos difíceis do século XX, durante o fascismo em Espanha, em Portugal".
Para assinalar os 50 anos deste espaço, o diretor lembra que é preciso pensar neste espaço como uma ponte entre o tradicional e o contemporâneo, questionando "qual será o nosso sonho para os próximos 50 anos?".
O mais recente espetáculo do Théâtre de la Ville, "Os Separáveis", escrito por Christophe Lemaire e Emmanuel Demarcy-Mota, apresenta dois protagonistas: Sabah e Romain, ambos de nove anos, que partilham a linguagem de dois mundos paralelos.
"Muitos de nós temos o ideal de saber viver em comum e de saber aceitar as diferenças de cada um, sejam estas ligadas à religiāo, às origens, à relaçāo homem-mulher. Nāo sāo questōes só de hoje, mas hoje temos a responsabilidade de tentar avançar de forma mais positiva", descreve Emmanuel Demarcy Mota.
O extremismo é uma problemática dominante em França, depois dos atentados no Bataclan, e é, por isso, importante explicar estas questões aos mais novos, explica o encenador.
"Como poder falar do extremismo às novas gerações? Como é que um teatro público, como o Théâtre de la Ville, consegue entrar em diálogo com as novas gerações sobre estas questões? Hoje toda a gente fala de diálogo, os políticos, a sociedade... temos todos de estar em dialogo. É fácil dialogar com pessoas com quem estamos de acordo, quando nāo há acordo aí a questão do diálogo é interessante e é mais difícil", questiona o encenador lusodescendente.
A peça, dirigida a crianças e adultos, explora a ligação entre a realidade e o imaginário e questiona preocupações sociais como a luta de classes, a xenofobia ou ainda o terrorismo.
Para o encenador de "Os Separáveis", este é um espetáculo muito complexo. "Muitas vezes pensa-se que quando se faz um espetáculo para crianças, ou para um mundo infantil, para adolescentes, trabalha-se menos do que quando para um espetáculo para adultos, mas nāo. Isso nāo faz sentido porque temos de trabalhar mais, porque temos uma responsabilidade sobre a questão do imaginário que tem de ser muito forte".
As duas personagens confrontam-nos com medos, sonhos, curiosidades, exigências, esperanças, derrapagens características das crianças, mas que continuam a ser um pouco dos adultos também.