No ano do centenário do nascimento do poeta nascido em Cabo Verde, a TSF relembra a emissão de 1994 com uma interpretação do poema mais famoso de Daniel Filipe. Porque continua a ser urgente inventar o amor
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"A Invenção do Amor" é um poema subversivo. Foi escrito por Daniel Filipe (1925-1964) em 1961 e editado pela Sagitário, mas foi o livro póstumo "A Invenção do amor e outros poemas" (Editorial Presença), em 1969, que ficou famoso. Este mês, a Editorial Presença reeditou o livro, que há muito está ausente das prateleiras das livrarias em Portugal.
Daniel Filipe escreveu "A Invenção do Amor", denunciando as perseguições da ditadura e da sociedade portuguesa da época, ao amor como um perigo público ou um crime de Estado.
O poeta nasceu na Boavista, em Cabo Verde, em 1925, e morreu em Lisboa, onde viveu e estudou desde a adolescência. Trabalhou na Emissora Nacional, onde realizou o programa de rádio "A Voz do Império", de divulgação literário. Escreveu para várias revistas de letras e pensamento, como a Seara Nova ou os cadernos "Notícias do Bloqueio", que difundiam poesia de matriz antifascista. Foi distinguido com o Prémio Camilo Pessanha, pelo poema "A Ilha e a Solidão", de 1957, assinado com o pseudónimo Raymundo Soares. Foi perseguido, torturado e preso pela PIDE.
Em "A Invenção do Amor", Daniel Filipe fala do alarme social causado por um homem e uma mulher que ousaram amar-se e que agora são perseguidos pela polícia. O poeta cria um ambiente de alerta que atinge a sociedade, obrigado ao fecho das escolas e ao recurso à TV e à rádio para acompanhar este "drama".
O poema ganhou voz por iniciativa do editor discográfico Arnaldo Trindade, em 1973, com uma interpretação Mário Viegas. Mas já antes, em 1965, o realizador António Campos adaptou o poema e a história para o cinema.
Em 1994, utilizando técnicas semelhantes às usadas na década de 30 do sec. XX na adaptação de "A Guerra dos Mundos" de H.G. Wells, por Orson Wells, a TSF recriou o poema de Daniel Filipe, num registo de reportagem em direto. O programa foi mostrado no Dia de São Valentim (e dos namorados) sob o mote "Inventar o amor com carácter de urgência".
A emissão de 14 de fevereiro de 1994, foi coordenada por Fernando Alves e Jorge Pena, com as participações de Alexandrina Guerreiro, Ana Lourenço, António Jorge Branco, António Pinto Rodrigues, Carlos Vaz Marques, David Borges, João Almeida, João Paulo Baltazar, José Carlos Barreto e Manuel Vilas Boas.
