"Tremendo escritor e homem com grande sensibilidade." Documentário sobre José Saramago estreia em Portugal
Chama-se "José Saramago. O Tempo de uma Memória". Conta com reflexões sobre a memória, a escrita e a vida do único prémio Nobel da Literatura português. No dia em que se assinalam 15 anos da morte de José Saramago, a realizadora, Carmen Castillo, descreve na TSF o filme como um retrato íntimo do escritor
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O filme é de 2003 e estreia esta quarta-feira em Portugal na RTP2 depois das 23h00. José Saramago. O Tempo de uma Memória é também exibido na Fundação José Saramago, que esta quarta-feira tem uma programação para marcar os 15 anos da morte do autor d' O Memorial do Convento. Entre as iniciativas em homenagem ao escritor, há uma exposição no espaço da Fundação e uma peça de teatro na Feira do Livro de Lisboa.
O documentário é composto por entrevistas que a cineasta chilena Carmen Castillo fez a José Saramago. Em entrevista à TSF, a realizadora diz que o filme mostra um lado mais íntimo de José Saramago.
O que nos pode dizer sobre este documentário?
O trabalho José Saramago. O Tempo de uma Memória não fala da vida biográfica de José Saramago nem da sua morte. Fala de José Saramago, o homem. Íntimo, humano, político, fala do escritor e da influência da obra de José Saramago nas artes em geral.
É um documentário que procura entrar no mistério de um escritor extraordinário e como a sua obra e maneira de ser, postura e visão de mundo, podem ajudar-nos a decifrar o mundo em que vivemos.
A obra de José Saramago inspirou ópera, teatro, fotografias, cinema, e é sobre isso que é o filme.
Como foi preparar este documentário?
O trabalho de preparar um documentário como este é muito grande e composto de uma investigação a todas as obras de José Saramago e, sobretudo, no encontro, nas ações, nos territórios e na amizade com José Saramago e Pilar del Río.
Nós conhecemo-nos durante a revolta e a experiência Zapatista, e desde então nunca mais deixamos de ser amigos. José Saramago foi co-produtor do meu filme que se chama Rua Santa Fé, premiado no Festival de Cannes.
José Saramago acompanhou-me durante toda a minha vida desde que o conheci por volta do ano 2000 até ele morrer.
É a amizade, o estudo, o rigor e o trabalho em equipa que me aproximou o mais possível do mistério de um escritor, de um homem que hoje – repito – hoje é absolutamente necessário. Lê-lo e ouvi-lo ajuda-nos a viver neste planeta de hoje.
Quem era José Saramago para si?
Um amigo, um tremendo escritor, um homem com uma sensibilidade, uma humanidade que se tivéssemos um resquício dessa humanidade, desse talento, visão e dessa antecipação de estar sempre ao lado de quem sofre, de dar visibilidade e de contar coisas que ainda não somos capazes de ver... Repito que José Saramago está presente na minha vida, em diálogo permanente, todos os dias cá está José, à minha volta.
Saramago devia ser assim, um espírito desses mortos que nunca ficam ali, onde os enterramos, desses mortos que nos ajudam a viver, que nos abraçam e nos acompanham. Este seria para mim José Saramago.
