Conheça as reações à morte do escritor e jornalista Baptista-Bastos.
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Mário Zambujal, jornalista e escritor
"Baptista-Bastos era um homem brilhante e foi um escritor brilhante, esse lado talvez não tenha sido até agora muito lembrado. Mantinha a sua atividade intensa como cronista. Era admirável a prosa dele. É um golpe para todos os que o conheceram e, com certeza, para os que o leram. Quando perdemos um amigo, morremnos um pouco também porque a nossa vida fica mais pobre".
"Baptista-Bastos amava profundamente a vida. Tinha uma alegria de viver extraordinária. Era inquieto e gostava de polémicas. Era um homem de esquerda pura, muito firme nas suas convicções. Mesmo os que tiveram algumas divergências com ele não deixaram de o admirar".
Eugénio Alves, editor e membro do Clube de Jornalistas
"Foi um jornalista invulgar, pelo seu talento, pela sua coragem. Um exemplo para os seus camaradas. Solidário, fraterno. Foi também um grande escritor. [A morte de Baptista-Bastos] É uma perda irreparável. Mesmo aos 81 anos, ele continuava a ser um baluarte. Era dos poucos que ainda resistia a uma informação que não é nada da que ele viveu, da que ele defendeu e potenciou durante seis décadas".
Fernando Dacosta, escritor e jornalista
"Foi um grande criador e cultor da Língua portuguesa. Foi das pessoas que mais me influenciou pela criatividade da sua escrita, era um jornalista que dizia que não havia diferença entre jornalismo e literatura, e que o jornalismo era uma disciplina da literatura. Sempre se bateu pela alta qualidade da escrita. Lembro-me que [os escritores] Natália Correia e Jorge de Sena diziam que liam tudo o que Baptista-Bastos escrevia, livros e coisas dos jornais, porque ele era um recriador da língua portuguesa. É uma referência de alta qualidade do jornalismo português, não só do ponto de vista estético como ético".
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República
"Não havia outro nome tão facilmente identificável com a história da imprensa portuguesa, com O Século, o República, o Diário Popular, o Diário de Notícias, entre muito outros jornais e revistas, de antes de agora.
Foi na imprensa que nos habituámos às suas crónicas buriladas, vernáculas, veementes, às suas entrevistas conversadas que também fizeram escola na televisão, e às reportagens, à crítica cinematográfica.
Deixou igualmente uma significativa produção romanesca, politicamente alinhada com o neo-realismo, mas mais depurada, e que tão depressa se ocupava da boémia lisboeta como de um lirismo magoado e das vicissitudes da História.
Convicto oposicionista, continuou «do contra» em democracia, comprometido mas livre. Era, além do mais, uma personagem viva do imaginário português, como poucos jornalistas conseguiram ser, um português antigo, às vezes zangado, mas fraterno e comovido".
Luís Filipe Castro Mendes, Ministro da Cultura
"Figura incontornável do jornalismo português, romancista e ensaísta, natural de Lisboa, Baptista-Bastos iniciou a sua carreira profissional aos 19 anos no jornal O Século. Em 1953 assinou a coluna de crítica 'Comentário de Cinema', n' O Século Ilustrado, iniciando um estilo jornalístico inovador, polémico e extremamente atual que o haveria de caracterizar para sempre".
"Baptista-Bastos pertenceu aos quadros redatoriais de diversos jornais e títulos e recebeu inúmeros prémios", como o Prémio Feira do Livro (1966), o Prémio Artur Portela (1978), o Prémio Nacional de Reportagem/Prémio Gazeta (1985), o Prémio Casa da Imprensa (1986), o Prémio «O Melhor Jornalista do Ano» (1980 e 1983), o Prémio Pen Clube (1987) e o Prémio Cidade de Lisboa (1987)".
"Fernando Dacosta considerou a sua obra sobre jornalismo 'As Palavras dos Outros' como 'uma referência obrigatória na profissão'", enquanto Luiz Pacheco qualificou a mesma obra como "Jornalismo feito literatura" e "ascendendo ao plano da literatura: na contenção irónica, na sua capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese".
Câmara Municipal de Lisboa
"Era um filho orgulhoso da Ajuda, freguesia da cidade onde nasceu e viveu e que descreveu nos livros ou nas páginas dos jornais por onde passou e onde escreveu crónicas, artigos, reportagens. As suas palavras, essas, não se esfumam e hão de permanecer vivas nas páginas dos livros, no papel dos recortes de jornal ou na internet".
Baptista-Bastos foi "antifascista, figura incontornável da cultura portuguesa (os seus livros integraram listas de leitura obrigatória no ensino), mestre do jornalismo". Deixa um "importante legado".