“Suplicantes” é a produção da ACTA, a Companhia de Teatro do Algarve, que esta sexta-feira e sábado sobe ao palco no teatro das Figuras, em Faro
Corpo do artigo
Sons de guerra, com helicópteros a sobrevoar, bombas a cair e gritos. É como tem início a peça de teatro que relata a guerra colonial em África, uma página negra na história portuguesa que marcou uma geração.
O texto é de Alexandre Honrado, a dramaturgia e encenação de Luis Vicente. "Tudo o que acontece nesta peça é baseado em factos reais", garante o encenador. Os episódios partem sempre desta base, embora possam ter um desfecho diferente da realidade, como convém à narrativa.
O espetáculo inicia com o caso dramático de um soldado português que se encontra no mato e pede auxílio para um guerrilheiro africano ferido com gravidade. Sem ajuda do helicóptero que não chega, decide agir e acabar com o sofrimento do inimigo dando-lhe um tiro.
No entanto, a história central da peça “Suplicantes” é a de um homem africano que, já moribundo, pretende ver e deixar à viúva do soldado português que viu morrer em África, algo que ele trazia consigo e que guardou durante anos: os caracóis do filho que acabara de nascer em Portugal e a mulher tinha enviado para África. “A acção passa-se num quarto de hospital. A viúva de um soldado português, acompanhada pelo filho, visita um moribundo, a pedido deste, ex-soldado africano que no passado foi inimigo na guerra e amigo inesperado de um soldado português que o tornou fiel depositário de “tesouros” que o ex-soldado africano agora pretende devolver”, relata a ACTA na apresentação da peça. “Da tensão ao entendimento e à respeitosa aceitação da diferença que tanto os marcou” encontra-se em toda a narrativa.
Luis Vicente, que dedica esta peça à memória de Amílcar Cabral, decidiu fazê-la nos 50 anos do 25 de Abril com um propósito: "Para que a memória não se perca e se fale destes acontecimentos que se deram na nossa história.” O encenador considera que só nos últimos anos se têm conhecido alguns episódios da guerra colonial e sobretudo pelo estudo do tema pela academia ou por filhos, ou netos dos combatentes.
Após subir ao Palco no Teatro das Figuras, a peça será levada à cena no Teatro Lethes, e em Novembro passará por S. Brás de Alportel, Albufeira e Lagos.