Uma Thurman quebra silêncio sobre Harvey Weinstein, acusando-o de a ter atacado múltiplas vezes e responsabilizando-o pela ocultação de acidente nas gravações de Kill Bill. A prova foi filmada.
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Questionada sobre a onda de denúncias de mulheres sobre casos de assédio no trabalho em Hollywood, a atriz tinha dito em outubro que se sentia "demasiado zangada para falar" e que falaria "quando estivesse pronta". Alguns meses depois, Uma Thurman estava pronta para falar e deu uma entrevista ao jornal The New York Times, na qual revelou os motivos da sua ira: Thurman acusa Weinstein de a ter atacado várias vezes e de ter um esquema montado com assistentes para atrair e encurralar jovens mulheres.
A atriz revela também ter sido pressionada, nos últimos dias das gravações de Kill Bill, em 2003, a conduzir um carro com problemas mecânicos, apesar dos seus pedidos para que a cena arriscada fosse gravada por uma dupla, o que resultou num acidente com consequências graves para a atriz, que a produtora de Harvey Weinstein ocultou e pelo qual recusou assumir responsabilidade.
Quinze anos depois, a atriz conseguiu acesso à gravação, agora publicada na íntegra no The New York Times e no seu Instagram pessoal, numa versão mais curta. No vídeo, é possível ver Uma Thurman a acelerar por uma estrada degradada até bater numa árvore, embatendo violentamente no para-brisas e depois na manete das mudanças com a cabeça. Foi levada para o hospital, de onde saiu com danos permanentes no pescoço e nos joelhos e uma concussão, resultante de um traumatismo craniano.
Na entrevista, Uma Thurman revela também que depois do acidente a produtora recusou ceder-lhe as imagens, a não ser que assinasse um documento a ilibá-los de "qualquer responsabilidade futura pelos danos causados". A atriz não aceitou, e a partir desse momento diz ter-se sentido "desumanizada ao ponto da morte" durante as gravações no México, e que isso destruiu a relação, profissional e de amizade, que tinha na altura com Quentin Tarantino.
Harvey Weinstein respondeu às acusações de assédio e violência através de um representante, pedindo "desculpa por ter interpretado mal a sua relação com Uma". Quentin Tarantino, que cedeu agora o vídeo à atriz, reagiu, classificando o acidente como "a coisa pela qual sente mais remorsos em toda a sua vida", mas explica que, na altura, não se apercebera do risco envolvido na cena.
A atriz publicou agora o vídeo do acidente na sua conta de Instagram, com a seguinte legenda: "Publico este clip para manter a memória da sua exposição no New York Times, pela [jornalista] Maureen Dowd. As circunstâncias deste evento foram negligentes ao ponto da criminalidade, mas, acredito, sem intenção dolosa. Quentin Tarantino ficou profundamente arrependido, sente remorsos deste infeliz evento e cedeu-me a gravação anos mais tarde, para que eu pudesse expô-lo, trazê-lo à luz do dia, apesar de ser, provavelmente, um evento para o qual a justiça nunca será feita. Ele cedeu-me a gravação sabendo que a sua exposição poderia prejudicá-lo, e estou orgulhosa dele, por ter feito o que estava certo, e pela sua coragem. A ocultação do sucedido é imperdoável. E disso são unicamente responsáveis Lawrence Bender, E. Bennett Walsh e o notório Harvey Weinstein. Eles mentiram, destruíram provas, e continuaram a mentir quanto aos danos permanentes que causaram e escolheram esconder. A ocultação teve intenção maliciosa, e que se envergonhem disso para toda a eternidade. A CAA [Creative Artists Agency, a agência de Thurman na altura] nunca enviou ninguém ao México. Espero que cuidem dos outros clientes com mais respeito se querem de facto fazer o trabalho por que cobram dinheiro com alguma decência."