"Vai ficar na memória." Alentejo recebe em 2025 o novo Museu do Humor e do Absurdo
O novo espaço ainda não tem data para abrir, mas já se sabe que vai ter em exposição a coleção de peças de Sam, antigo cartoonista do jornal Público
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Vai nascer, em Serpa, o Museu do Humor e do Absurdo, baseado na coleção de peças do artista plástico Sam. O anúncio foi feito pela autarquia, que apresentou o catálogo do espólio do cartoonista, no dia que em que Sam faria 100 anos.
O prato forte do novo museu vão ser as peças de Samuel Torres de Carvalho, um espólio que conta com a mais variada panóplia de objetos, como enxadas, funis e ratoeiras... todos retirados do contexto original, para fins críticos e humorísticos, como era próprio do trabalho do artista. À TSF, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Serpa, Odete Borralho, explica que a preparação do novo museu está em curso há 15 anos. "A Câmara adquiriu o espólio do Sam em 2009 e temos tentado fazer um trabalho de divulgar o mesmo", explica. O objetivo do museu, segundo a autarquia, é também alertar para a importância da liberdade, com o trabalho de um artista que desafiou os limites da censura em pleno Estado Novo. "É essa a mensagem que queremos deixar às crianças e aos jovens do município", acrescenta Odete Borralho.
A cerimónia de apresentação do catálogo do museu contou com a presença de várias personalidades, entre elas o cartoonista do jornal Público, Luís Afonso. Foi amigo próximo de Sam e conhece bem o trabalho do artista. "Vai ser um daqueles museus que vão ficar na memória", garante à TSF. Entre a peculiaridade do trabalho de Sam, Luís Afonso destaca "a forma como pega em objetos e os desconstrói completamente, dando-lhes outra leitura", deixando aos mais novos um apelo a que visitem um museu. O cartoonista vê as últimas gerações cada vez mais presas ao mundo digital e entende, por isso, que têm aqui uma "oportunidade de contactarem com o outro mundo e ver a importância que o mundo físico tem para nós, que também somos físicos".
Samuel Azaveyev Torres de Carvalho nasceu em Lisboa, em 1924. Foi jornalista, mas ficou conhecido, sobretudo, pelo personagem “Guarda Ricardo”, impresso, pela primeira vez, no jornal “Notícias de Amadora”, em maio de 1971, durante o regime do Estado Novo. Fez também várias caricaturas, publicadas em dezenas de publicações periódicas, entre as quais o “Expresso”, o “Diário de Notícias”, “A Capital” e o “Público”. Foi neste último que trabalhou como cartoonista até ao fim da vida, a 21 de fevereiro de 1993.
Sam desenvolveu ainda trabalhos tridimensionais, mas também filmes do "Guarda Ricardo". Foi agraciado a título póstumo por Mário Soares (então Presidente da República) com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, em 1993.
Ainda não há data de abertura para o novo museu do Humor e do Absurdo, que será o primeiro do género em Portugal. A Câmara Municipal de Serpa adianta apenas que conta inaugurar o novo espaço em 2025.
