Variado, intenso, enigmático e único. Quatro razões para (re)ver o cinema de Manoel de Oliveira
O diretor da Cinemateca abre as portas ao ciclo integral da obra do realizador português. A partir desta terça-feira, há mais de 60 filmes do célebre cineasta para ver ou descobrir.
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O ciclo começa num dia especial, 11 de dezembro, data em que o realizador faria 110 anos. "Non, ou a Vã Glória de Mandar", de 1990, é o primeiro filme a ser exibido, mas depois a retrospetiva vai seguir a ordem cronológica.
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Para o nome do ciclo - "O visível e o invisível" - a Cinemateca inspirou-se numa das curtas-metragens do cineasta. No site oficial, pode ler-se: "Expressões como mistério, ocultação ou invisibilidade são frequentemente usadas perante uma obra cinematográfica em que a clareza e a visibilidade de determinados signos surge muitas vezes aliada à sua mais profunda ambiguidade, um cinema intimista que convida o espetador à reflexão sobre aquilo que vê e ouve e a preencher as elipses do que não é dito e não é mostrado, do que não podendo a imagem dar a ver, deve ocultar."
O próprio Manoel de Oliveira escrevia, em 1981, no catálogo da primeira retrospetiva que a Cinemateca dedicou ao realizador: "Há coisas que são abissais e os abismos não se podem filmar, sugerem-se".
No total, são mais de 60 filmes, incluindo longas e curtas-metragens, do cinema mudo ao século XXI. De fora fica apenas a curta-metragem de 1938, "Miramar, Praia das Rosas", de paradeiro desconhecido. Uma obra vasta que levou a TSF a pedir ao diretor da Cinemateca Portuguesa para enumerar quatro motivos para não perder esta oportunidade.
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José Manuel Costa começa por destacar um "universo muitíssimo variado" de um cineasta que filmou ao longo de oito décadas, mas "nunca se repetiu, foi sempre diferente, experimentou sempre, pulsou com a evolução do cinema mundial".
O diretor da Cinemateca contesta ainda a ideia de um cinema parado e sublinha a intensidade da sua obra, que "vem de uma noção precisa do tratamento do espaço e do tempo. Os planos podem ser curtos ou longos, mas têm o tempo certo e estão no espaço preciso e, por isso, há uma sensação de que tudo é essencial".
Em terceiro lugar, José Manuel Costa classifica o cinema de Manoel de Oliveira de enigmático porque apesar de filmar "as coisas e as pessoas com grande frontalidade, com uma grande capacidade de figuração, aquilo que ele filma nunca é banal, há sempre uma espécie de estranheza no mundo que ele filma. Há um olhar que acrescenta estranheza às coisas". Uma característica, sublinha, que contribuiu para dar nome a este ciclo integral.
Por fim, o diretor da Cinemateca considera que o realizador português criou um cinema único, ao transformar "todas as fraquezas em forças", nomeadamente por ter criado uma obra tão vasta com meios de produção escassos e num país que não tem uma indústria cinematográfica forte. "Ele não copiou ninguém", conclui.