Verba de 500 mil euros para promoção do mirandês: "são cêntimos" para o Estado, mas "permite manter identidade"
Em declarações à TSF, Alcides Meirinhos, um dos responsáveis pela Associação Cultural da Língua e Cultura Mirandesa, agradece "a quem aprovou esta medida", já prevista no Orçamento do ano passado, mas que acabou por não ser executada
Corpo do artigo
A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira a proposta do Bloco de Esquerda (BE) que prevê uma verba de meio milhão para apoiar a criação de uma entidade promotora do Mirandês, segunda língua oficial de Portugal.
A proposta foi apresentada pelo Bloco de Esquerda, no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, e acabou por ser aprovada com a abstenção do Chega e os votos contra do PSD e CDS-PP.
Em declarações à TSF, Alcides Meirinhos, um dos responsáveis pela Associação Cultural da Língua e Cultura Mirandesa, afirmou que o valor é irrisório para o Estado, mas essencial para este projeto.
"Para um Orçamento do Estado, são cêntimos e vai permitir a elaboração de manuais, vai permitir a promoção da língua nos diferentes media e na conversação geral, no fundo, como uma língua que se quer ainda de trato diário e que se tem vindo a perder. No fundo, é manter também uma língua que é uma identidade.", explica.
A Associação Cultural da Língua e Cultura Mirandesa agradeceu a quem aprovou esta medida, já prevista no orçamento do ano passado, mas que acabou por não ser executada.
"Ao não serem executados, o BE propôs novamente uma dotação no Orçamento do Estado para 2025, para substituir o que vinha do anterior. Estamos eternamente gratos a quem propôs e a quem permitiu que essa proposta fosse aprovada, porque não nos podemos esquecer que a língua mirandesa faz parte do todo nacional desde a sua fundação", sublinha.
Para o BE, a preservação da língua mirandesa é não só uma questão cultural e de identidade, mas indissociável de qualquer estratégia de desenvolvimento regional, fulcral para o progresso económico das suas instituições e da melhoria de vida dos seus habitantes.
"É também uma poderosa ferramenta para o combate o despovoamento da região, contribuindo para o reforço do vínculo dos mais jovens com a sua terra", justifica.
Há 25 anos que o mirandês foi reconhecido oficialmente, através da lei 7/99 que fazia da língua a segunda oficial no país, aprovada a 17 de setembro de 1998 e que entrou em vigor com a publicação em Diário da República a 29 de janeiro de 1999.
Os bloquistas relembram o estudo efetuado pela Universidade de Vigo (UV), de 2023, previa a possibilidade de extinção da língua próximo do ano 2050.
"Infelizmente, a Língua Mirandesa corre sérios riscos, apesar de todo o empenho do povo da Terra de Miranda, da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, do município e do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro", indica o BE.
