Violante Saramago: "Nunca tive grandes conversas com o meu pai, falávamos com o olhar"
A filha de José Saramago recorda a "relação muito forte" que tinha com o Prémio Nobel, os passeios na aldeia onde o escritor nasceu e as memórias que as palavras escritas lhe trazem.
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Não conheceu o bisavô Jerónimo, sobre quem o pai, José Saramago, escreveu que foi o homem mais sábio que conheceu, mesmo não sabendo ler nem escrever. Mas Violante lembra-se muito bem da casa da bisavó Josefa. Na Azinhaga (Santarém), a filha do único Nobel da Língua Portuguesa, lembrou à TSF os passeios até à "boca do Tejo, assim se chamava a foz do Almonda" com o pai e mãe, a pintora Ilda Reis.
"Nunca tive grandes conversas com o meu pai, tinha era uma enorme cumplicidade com ele. Falávamos com o olhar, com o toque. Era uma relação muito forte, muito próxima."
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Violante Saramago lembra que "tudo isto era o meu campo de brincadeira", apontando para o jardim em frente à Fundação José Saramago, enquanto constata que "estas árvores nem existiam". O regresso a Azinhaga, mais um, deveu-se à celebração dos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago. O gabinete do Primeiro-ministro, António Costa, e a Fundação José Saramago organizaram uma viagem pelos locais de Saramago, que começou em Lanzarote e terminou na Casa dos Bicos, sede da Fundação, em Lisboa, passando pela terra natal do escritor.
Numa conversa afastada do burburinho e das viagens entre a zona do porco no espeto, que foi oferecido a todos, e a das bebidas, à sombra das árvores que só vieram depois dos passeios a pé e de bicicleta de Violante pela aldeia, a filha de Saramago partilha que é às páginas do que o pai nos deixou que aviva tantas e tantas vezes a memória pessoal.
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"A escrita do meu pai mexe muito comigo. Há muitas situações em que eu estou a ler e estou a vê-lo e estou a ouvi-lo, embora ele não esteja presente ali."
.Em 1998, o pai de Violante recebeu a notícia de que tinha ganhado o Nobel da Literatura num aeroporto, ela foi informada da distinção enquanto participava numa reunião de Câmara, no Funchal.
"Andei, confesso, uns dias assim acima do chão."