Visão de guerra: 12 jornalistas numa redação SOS aumentam vendas
Autora: Inês Baptista
A Visão está em risco de fechar, mas um grupo de 12 jornalistas tem até aumentado as vendas da publicação, mesmo que a partir de uma redação SOS. Depois da entrada da empresa proprietária da publicação em processo de insolvência, a Visão, com 30 anos de história, vai a leilão.
A porta não é da redação, é da casa do diretor da Visão, de onde por estes dias se faz a revista. Rui Tavares Guedes descreve um novo normal.
"Perante a possibilidade de encerrar a revista, porque não tínhamos espaço físico para a fazer, sabíamos - a pandemia tínhamos provado - que, apesar de ser difícil, era possível fazê-la, cada um na sua casa. Desta vez temos o incentivo de a revista ir para as bancas e, ainda para mais, está a vender mais do que vendia habitualmente. A resposta dos leitores tem sido muito boa quando souberam que a situação em que a revista poderia estar a ir. Esse é um incentivo que nos faz dar mais luta e ânimo, mesmo quando estamos um bocado mais isolados e isso é uma coisa dramática para quem está no jornalismo", revela à TSF.
O ambiente de redação perdeu-se, conta o subdiretor Filipe Luís, num café de um cinema em Alvalade. Antes presencial, a redação passou para o online.
"Era um frémito e uma febre do fecho. Era uma alegria, nervosismo positivo e adrenalina toda a gente junta a discutir, a fechar e a cumprir o prazo. Às vezes havia dúvidas. Era mais discutido enquanto era presencial. Agora, os fechos são em casa. Então, o que é que está sempre completamente a bombar? O WhatsApp", explica.
"Visão de Guerra" é o nome do Grupo do WhatsApp que representa uma missão. Depois do processo de insolvência da Trust in News, empresa proprietária, a Visão está em risco de fechar e os jornalistas que a escrevem todas as semanas querem salvá-la.
"A nossa ideia é adquirir uma Visão que dê lucro - que dá. Temos as contas já todas bem feitas e todo o plano de negócio preparado. É expandir. Ninguém fica com o título para repartir lucros. Nada disso. Nós ficarmos com os salários, mas não com o lucro. O lucro é usado para expandir a revista e para melhorar sempre", esclarece uma das jornalistas.
Mesmo com as muitas ofertas de ajuda que os jornalistas da Visão têm recebido, a equipa que escreve a revista está a trabalhar no osso, mas continuam a persistir perante as dificuldades. Para isso, já fizeram uma declaração de intenção de compra do título, que vai a leilão. Para concretizar essa vontade há um plano, conta Margarida Davim.
"Como é que vamos conseguir comprar a revista? Vamos lançar uma campanha de crowdfunding para conseguir angariar, por um lado, dinheiro para comprar o título. Por outro lado, dinheiro para o mês zero", anuncia.
Ainda não há prazos, até porque ainda falta a resposta à pergunta 'quanto vale a Visão'.
A trabalhar a partir de casa, restaurantes, cafés ou jardins, os jornalistas que dão valor à revista sublinham que, sem eles, a Visão não será a mesma. Estão a lutar para manter a revista nas bancas e pedem ajuda.
"Temos o futuro nas nossas mãos. Depende de nós. Vale a pena, pelo menos, insistir teimosamente. Antes isso do que chegar um dia mais tarde e termos desistido e baixado os braços - que também é normal, podemos estar cansados - e perguntar 'mas será que eu fiz tudo o que era preciso para evitar e por que é que deixou de existir uma revista como a Visão em Portugal? E será que eu fiz tudo o que estava ao meu alcance?' Pelo menos acho que vamos chegar com a consciência limpa de que, pelo menos, todos nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance e tudo o que era possível fazer", atira ainda outro jornalista.
Os jornalistas da Visão querem sair de casa e do silêncio e voltar a ouvir o ruído de uma redação.
